quarta-feira, 6 de março de 2013

O preço da fama: Box 32


O PREÇO DA FAMA


                     Manhã de sol. Florianópolis. O destino era a Praia de Canavieiras, onde meus amigos passariam alguns dias. Primeira viagem ao Sul do Brasil. Eu, grilo pensante, também estou de férias, viajando em anonimato dentro do carro. A economia é algo estranho, porque procuram “economia” nos lugares em que mais gastam dinheiro. Os humanos gastam pensando em economizar. Para ser mais claro, sempre que vão viajar dizem:
                     -Precisamos economizar na viagem.
                     Bem, se era para economizar porque não ficam em casa. Estou brincando, sempre é bom viajar. Perto ou longe não importa, mas, ficar em casa é deixar de lado um mundo de oportunidades de conhecer lugares novos, novas culturas, mas implica em gastos gastronômicos e muitas vezes, supérfluos. Se quiserem levar lembrancinhas da viagem, aí sim que ninguém viaja. Viajar é muito bom.  Viajar é tornar o mundo interno maior e aumentar a nossa capacidade de relação com o mundo em que vivemos. Não importa o percurso da viagem, os meios de transportes que vamos dispor para isto e que, é claro, têm relação com o nosso bolso, ou melhor, com a nossa economia. O importante é o nosso bem estar, a nossa paz de espírito.
                     E foi com esse espírito que meus amigos desembarcaram em Florianópolis, no centro, para conhecer o Mercado Municipal da Capital e daí que narro esta aventura:  
                     - Tenho uma sugestão para hoje. Conhecer o Box 32 no Mercado Municipal e almoçar os pastéis deliciosos de lá. Li uma reportagem a respeito. – sugeriu Ângela, a assessora para assuntos turísticos. Ela havia assistido Ana Maria Braga fazendo “merchandising” sobre o Box 32, o quão era importante conhecê-lo.
                     Essa ideia agradou em cheio, seriam dias exaustivos de praia, sol e restaurantes sofisticados na bela Florianópolis, dar uma trégua ao estômago e ao bolso lhes parecia à melhor pedida. Tinham muitos almoços e jantares pela frente e a ideia de economizar, mesmo que remota, pareceu tentadora.
                     Decisão tomada! Após a manhã de praia, lá estavam todos se aventurando no trânsito desconhecido, ávidos para chegar ao destino.
                     - Onde fica o Mercado Municipal?- indagava Didi, o “motorista trainer"  do grupo, aos motoristas que perfilhavam ao nosso lado.
                    Indagações aqui e ali e eis que chega um taxista “salvador”:
                   - Mercado Municipal? Vou para lá. Sigam-me.
                   Estávamos, realmente, escoltados pelo motorista da frente. De pisca-alerta ligado, tomando atenção para que não nos perdêssemos, ele nos conduziu até o estacionamento próximo ao Mercado Municipal.
                  -Pronto, chegamos. Fico por aqui.
                  O taxista benfeitor os deixou à volta com a questão de estacionamento, rapidamente resolvida pelo grupo e todos pudemos se concentrar no objetivo principal:
                  - Box 32. Almoço do dia: pastéis.
                  O mercado, imponente em sua construção, diferenciava em muito com o seu interior.  Boxes apertados, sem muita atenção com o senso estético e artístico que a construção exigia, dando a primeira impressão de coisa barata e sem qualidade, o que não se confirmou.  Pessoas circulavam pelos corredores, verificando as mercadorias e efetuando suas compras.
                  - Box 32. É aqui. Me disseram que não podemos vir a Florianópolis sem comer estes deliciosos pastéis.  – advertiu Ângela.
                  O Box 32 ficava na vertical em frente aos corredores. Muito bem montado com mesas e bancos para acomodação dos fregueses em toda sua extensão. Garçonetes de uniformes davam graça e singularidade ao local. Para refrigerar o ar e diminuir o calor, um equipamento sofisticado estava instalado acima dos fregueses. Uma hélice giratória proporcionava uma brisa suave, deixando o ambiente agradável.
                  -É a minha cara. Pode mandar uma da melhor pinga que tiver. Três chopes, urgente! – falou Beto, antecipando-se aos demais.
                  - É a melhor do país. - respondeu a garçonete, apresentando-lhes o cardápio com letras miúdas, indecifráveis a qualquer míope assumido ou a qualquer pessoa que já passou dos cinquenta. A Ângela, a única não míope, a responsabilidade do pedido. Ela olhou, voltou a olhar e fez o pedido coletivo:
                 -Um pastel de bacalhau e um chope.
                 Eram quatro casais e ela só poderia estar brincando:
                 -O que? Um pastel e um chope? E os outros? –perguntou Beto.
                 -Acho melhor você ver sozinho, ou melhor, empresta uns óculos e veja isto. - ela advertiu
                 O ar de indignação que estampou no  rosto do Beto, deu ao grupo pistas de que os regimes não seriam quebrado naquele momento.
                 -É muito caro. O melhor é pedir um pastel para cada e almoçar em outro lugar.
                 Neste ínterim, o Didi que havia saído, retornou e alheio a nossa conversa e avesso a “pão durismo” em período de férias, falou indignado:
                 - Porque vocês não pediram porções.  Peçam logo uns quatro bolinhos de bacalhau e uns dois pastéis para cada.
                 - Bem, olha os preços. O seu pastel de bacalhau custa R$ 30,00 (preço muito maior do que pastelarias da cidade). O preço do bolinho de bacalhau é quatro vezes maior ao que se paga normalmente.
                 - O quê?  Tudo isto. É um roubo. Suspende tudo.
                 Impossível, pois o nosso pedido já estava a nossa frente. O tamanho do pastel decepcionava; em nossa cidade, o pastel de era bem maior. O Box 32, de repente, se transformou num lugar para otários indefesos em férias.
                 A conta chegou.  Outro choque. O preço era de um almoço para duas pessoas em um restaurante de boa qualidade. Pago por um pastel de bacalhau, uma pinga, três chopes e um suco.
                - É o preço pago por essa brisa agradável.
                Pagaram a conta, mas inconformados com o prejuízo e devido ao adiantado da hora, decidiram driblar o estômago continuando a refeição no Box 34, em frente ao “famoso”, não sem antes de verificar o cardápio: o preço era razoável para um pastel. Posicionaram-se em uma mesa em frente ao mesmo, na tentativa de que, mesmo indiretamente, desfrutar-se da brisa que o Box 32 proporcionava aos clientes.
                O término da tarde não foi como planejaram, mas conseguiram assunto para o resto das férias. De uma coisa eles têm certeza:
               “Box 32, recomendação aos inimigos. Aos amigos: Box 34, se a prioridade for conhecer o Mercado Municipal”.
                A lição do dia sabiam de cor: Paga-se o preço do nome, da fama. Em um país que tem a mais alta taxa tributária do mundo, ainda se corre o risco de ser lesado no comércio. O jeito bom mesmo é de pechinchar. Verificar preços e comprar o que for estritamente necessário, senão nosso salário “vai pro ralo”. E, não se esqueçam de guardar sempre um “dinheirinho” para viagens.
                Foram dias maravilhosos em Florianópolis, em especial, na praia de Canavieira, mas isso é assunto para outra história.  Fui.                                                                           

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