O PREÇO DA FAMA
Manhã
de sol. Florianópolis. O destino era a Praia de Canavieiras, onde meus amigos
passariam alguns dias. Primeira viagem ao Sul do Brasil. Eu, grilo pensante,
também estou de férias, viajando em anonimato dentro do carro. A economia é
algo estranho, porque procuram “economia” nos lugares em que mais gastam
dinheiro. Os humanos gastam pensando em economizar. Para
ser mais claro, sempre que vão viajar dizem:
-Precisamos economizar na
viagem.
Bem, se era para economizar
porque não ficam em casa. Estou
brincando, sempre é bom viajar. Perto ou longe não importa, mas, ficar em casa
é deixar de lado um mundo de oportunidades de conhecer lugares novos, novas
culturas, mas implica em gastos gastronômicos e muitas vezes, supérfluos. Se
quiserem levar lembrancinhas da viagem, aí sim que ninguém viaja. Viajar é
muito bom. Viajar é tornar o mundo
interno maior e aumentar a nossa capacidade de relação com o mundo em que
vivemos. Não importa o percurso da viagem, os meios de transportes que vamos dispor para isto e que, é claro, têm relação com o nosso bolso, ou melhor, com a nossa
economia. O importante é o nosso bem estar, a nossa paz de espírito.
E foi com esse espírito que
meus amigos desembarcaram em Florianópolis, no centro, para conhecer o Mercado
Municipal da Capital e daí que narro esta aventura:
-
Tenho uma sugestão para hoje. Conhecer o Box 32 no Mercado Municipal e almoçar
os pastéis deliciosos de lá. Li uma reportagem a respeito. – sugeriu Ângela, a
assessora para assuntos turísticos. Ela havia assistido Ana Maria Braga fazendo
“merchandising” sobre o Box 32, o quão era importante conhecê-lo.
Essa ideia agradou em cheio, seriam dias exaustivos de praia, sol e restaurantes
sofisticados na bela Florianópolis, dar uma trégua ao estômago e ao bolso lhes
parecia à melhor pedida. Tinham muitos almoços e jantares pela frente e a ideia de economizar, mesmo que remota, pareceu tentadora.
Decisão
tomada! Após a manhã de praia, lá estavam todos se aventurando no trânsito
desconhecido, ávidos para chegar ao destino.
-
Onde fica o Mercado Municipal?- indagava Didi, o “motorista trainer" do grupo,
aos motoristas que perfilhavam ao nosso lado.
Indagações aqui e ali e eis que chega um
taxista “salvador”:
- Mercado Municipal? Vou para lá. Sigam-me.
Estávamos,
realmente, escoltados pelo motorista da frente. De pisca-alerta ligado, tomando
atenção para que não nos perdêssemos, ele nos conduziu até o estacionamento
próximo ao Mercado Municipal.
-Pronto, chegamos. Fico por aqui.
O taxista benfeitor os deixou à volta com a
questão de estacionamento, rapidamente resolvida pelo grupo e todos pudemos se
concentrar no objetivo principal:
- Box 32. Almoço do dia: pastéis.
O
mercado, imponente em sua construção, diferenciava em muito com o seu
interior. Boxes apertados, sem muita
atenção com o senso estético e artístico que a construção exigia, dando a
primeira impressão de coisa barata e sem qualidade, o que não se confirmou. Pessoas circulavam pelos corredores,
verificando as mercadorias e efetuando suas compras.
- Box 32. É aqui. Me disseram que não
podemos vir a Florianópolis sem comer estes deliciosos pastéis. – advertiu Ângela.
O
Box 32 ficava na vertical em frente aos corredores. Muito bem montado com mesas
e bancos para acomodação dos fregueses em toda sua extensão. Garçonetes de
uniformes davam graça e singularidade ao local. Para refrigerar o ar e diminuir
o calor, um equipamento sofisticado estava instalado acima dos fregueses. Uma
hélice giratória proporcionava uma brisa suave, deixando o ambiente agradável.
-É
a minha cara. Pode mandar uma da melhor pinga que tiver. Três chopes, urgente!
– falou Beto, antecipando-se aos demais.
- É a melhor do país. - respondeu a
garçonete, apresentando-lhes o cardápio com letras miúdas, indecifráveis a qualquer
míope assumido ou a qualquer pessoa que já passou dos cinquenta. A Ângela, a única
não míope, a responsabilidade do pedido. Ela olhou, voltou a olhar e fez o
pedido coletivo:
-Um pastel de bacalhau e um chope.
Eram quatro casais e ela só poderia
estar brincando:
-O que? Um pastel e um chope? E os
outros? –perguntou Beto.
-Acho melhor você ver sozinho, ou
melhor, empresta uns óculos e veja isto. - ela advertiu
O ar de indignação que estampou no rosto do Beto, deu ao grupo pistas de que os
regimes não seriam quebrado naquele momento.
-É
muito caro. O melhor é pedir um pastel para cada e almoçar em outro lugar.
Neste
ínterim, o Didi que havia saído, retornou e alheio a nossa conversa e avesso a
“pão durismo” em período de férias, falou indignado:
-
Porque vocês não pediram porções. Peçam
logo uns quatro bolinhos de bacalhau e uns dois pastéis para cada.
- Bem, olha os
preços. O seu pastel de bacalhau custa R$ 30,00 (preço muito maior do que
pastelarias da cidade). O preço do bolinho de bacalhau é quatro vezes maior ao
que se paga normalmente.
- O quê? Tudo isto. É um roubo. Suspende tudo.
Impossível,
pois o nosso pedido já estava a nossa frente. O tamanho do pastel decepcionava;
em nossa cidade, o pastel de era bem maior. O Box 32, de repente, se
transformou num lugar para otários indefesos em férias.
A
conta chegou. Outro choque. O preço era de
um almoço para duas pessoas em um restaurante de boa qualidade. Pago por um
pastel de bacalhau, uma pinga, três chopes e um suco.
- É o preço pago por essa brisa agradável.
Pagaram a conta, mas
inconformados com o prejuízo e devido ao adiantado da hora, decidiram driblar o
estômago continuando a refeição no Box 34, em frente ao “famoso”, não sem antes
de verificar o cardápio: o preço era razoável para um pastel. Posicionaram-se
em uma mesa em frente ao mesmo, na tentativa de que, mesmo indiretamente,
desfrutar-se da brisa que o Box 32 proporcionava aos clientes.
O
término da tarde não foi como planejaram, mas conseguiram assunto para o resto
das férias. De uma coisa eles têm certeza:
“Box 32, recomendação aos inimigos. Aos
amigos: Box 34, se a prioridade for conhecer o Mercado Municipal”.
A
lição do dia sabiam de cor: Paga-se o preço do nome, da fama. Em um país
que tem a mais alta taxa tributária do mundo, ainda se corre o risco de ser
lesado no comércio. O jeito bom mesmo é de pechinchar. Verificar preços e
comprar o que for estritamente necessário, senão nosso salário “vai pro ralo”. E,
não se esqueçam de guardar sempre um “dinheirinho” para viagens.
Foram dias maravilhosos em
Florianópolis, em especial, na praia de Canavieira, mas isso é assunto para
outra história. Fui.
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