segunda-feira, 18 de março de 2013

Homenagem aos poetas

Homenagem do Dia do Poeta aos poetas que frequentam o Sarau em Guarujá, coord. pelo Prof. Maurilio Campos, ao jovem poeta L.Cesaroni e a todos os demais que usam na escrita palavras do coração.

POETA

Lá vem o poeta que ri e que chora
Rimando a vida com dor e saudade
Lá vem o poeta que traz alegria
E tudo transforma em sonho e magia.

Lá vem o poeta de olhar tão distante
Fazendo da vida sua eterna amante
Sofrendo e amando pela vida afora
Não importando qual amor foi embora.

 “Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema e talvez, só então, eu comece a reinar no meu Reino”.
                                          Fernando Pessoa

Esta poesia é dedicada à amiga, poeta e escritora Silvia Cristina S.Preissler

POESIA E POETA

Poeta e poesia se comungam na alma,
Um como objeto, outro o senhor da ação,
A alma livre dita o tempo, a perfeição,
Do objeto do desejo nasce o beijo,
O lirismo da canção.
Tudo é coração!

Com sua pena ou computador,
O criador da Poesia, maestro da Arte
Torna-se o deus dos versos, do que vai ao coração.
Essa é a sua missão: a perfeição!

Quando da falta da pessoa amada, o poeta chora;
Chora de dor e saudade
Chora o amor desfeito, não a pessoa ausente,
Chora porque a alma está carente.

Os sentimentos se misturam com alegria,
Felicidade, saudade e dor,
Nascem os mais lindos versos de amor.
As palavras criam vida, fascinam e nem sempre rimam,
Mas é poesia, encanto e magia.

Então, com dor fremente
Tatuando em seu peito a triste sina,
Com a alma carente, o poeta chora.
Chora o amor desfeito, não a pessoa ausente,
E, nessa hora, a poesia invade sua mente,
Surgem as rimas.
E nasce o escritor, o poeta do amor.

Castro Alves



Dia 14 de Março se comemora o "Dia do Poeta" e o nascimento de Castro Alves o "Poeta dos Escravos" . Em homenagem à data fiz esta poesia no sarau de Guarujá, coord. pelo Prof. Maurilio Campos, poeta e escritor. 

CASTRO ALVES

24 anos! Partiu cedo demais!
Mas deixou saudade na luta pela liberdade.
Liberdade de sonhos! Liberdade de irmãos!
Contra os poderosos! Contra a escravidão!

Jovem, tinha tantos ideais!
Seus versos foram ouvidos por gente de bem.
E muitos emprestaram a sua voz
Para acabar com aquela agonia atroz
Vindas de porões de navios, como animais,
Era um grito de lamento o som de seus ais!

E a centelha da liberdade ressurgia a cada dia.
E mesmo tardia, a liberdade chegou!
Aos poucos, primeiro as crianças, os anciões,
Depois o gesto de Isabel.
A Lei Áurea acabou com a escravidão
Mas não com o preconceito de uma Nação.

Castro Alves, como tantos, foi a semente.
Depositada em terra fértil,
Driblando os hostis, os poderosos, o vilão.
Pena que não viveu para ver!
Que a sua luta não foi em vão.

Hoje, essa liberdade continua tardia
Tolhida a alguns jovens pelas mãos do tráfico,
Não dos senhores de escravos,
Mas pela escravidão das drogas
Ou do dinheiro, da corrupção,
Jovens sem referência, na miséria,
Na perda da inocência, da decência!

Hoje, os escravos vivem em becos imundos,
Vivem na falta de paradigmas, de educação,
Deteriorados de pensamentos, sem luz e sem amanhã.
Os valores antigos se esvaíram e se perderam
Na imensidão distorcida deste mundo
Tão solitário de amor!

Castro Alves! Viveste tão pouco!
Desconheces este mundo louco,
E nós não temos voz.
 Sofremos pela omissão!
Só nos resta rezar e implorar ao Criador,
Mais luz, mais ajuda e menos solidão,
Pra esses jovens frutos do desamor.
Clemência Senhor! 


Sempre há uma esperança


Sempre há uma esperança!

O período de chuvas estava longe de acabar e as casas do morro, nas áreas de risco, a cada instante se tornavam mais instáveis. Todos os órgãos competentes alertavam para o perigo: Defesa Civil, Secretaria do Meio Ambiente e outros... A Defesa Civil solicitou a saída dos moradores da favela, mas muitos não saíram. O medo rondava cada rosto. Mas como sair do único lugar que tinham pra viver?
Judite também era moradora da comunidade; era uma entre tantas a lamentar a cada chuva forte que caia. O jeito era rezar e esperar que o pior não acontecesse. Tinha cinco filhos e não tinha para onde ir.
Dia D – Madrugada: 03 h :00 min. - Todos dormiam. A chuva não parava. De repente um estrondo seguido de uma avalanche de barro e árvores desceu morro abaixo, levando barracos e soterrando casas.
Judite acordou com o barulho. As crianças choravam desesperadamente. O barraco não fora destruído,  mas a porta dos fundos fora obstruída por pedras que também fecharam a saída pela frente. A água começou a entrar por entre os vãos da casa e, sem saída, subia rapidamente dentro do barraco. Judite gritava por socorro. Alguém, do lado de fora, falou em chamar ajuda. Os filhos foram colocados, por ela, na cama e depois sobre a mesa. O ar estava ficando irrespirável. A água já estava atingindo a cama.
Os minutos passavam com uma rapidez impressionante. Agora, Judite pedia a ajuda Divina. Pedia para que as crianças rezassem com ela; Jesus, com certeza, atenderia aos apelos infantis. As crianças, estranhamente, pararam de chorar. O tempo não passava. Quanto tempo estava ali, sem saber o que fazer?
Os pensamentos de Judite voaram para o passado, quando ainda não morava no morro e na mudança repentina de vida pela qual passou com sua família. Uma forma desesperada de sair de uma vida intolerável. O marido alcoólatra, os pequenos sem comida, a luta desesperada pela sobrevivência. Deixou a pequena casa onde morava em uma noite em que o marido lhe espancara na frente das crianças. Deu queixa na polícia e ela foi encaminhada para a Delegacia da Mulher; receberia a proteção da “Lei Maria da Penha”.
Resolveu não voltar para casa. Sentia medo do pior. Sem endereço, vagou pelas ruas com os cinco filhos: um no colo do maior, outro no seu próprio colo e dois sendo puxados pelas mãos de um ou de outro. Os olhos da mãe tinham que estar atentos: ora olhava um, ora outro; até encontrar um esconderijo junto a uma marquise. Foi lá que a família passou a noite.
-Filhos, não chorem. Amanhã arrumamos um lugar para nós.
O povo brasileiro é muito bom e solidário. Nem bem tinha se instalado em pedaços de papelões e um casal, penalizado, lhes trouxe o que comer.
“Deus existe” - pensou Judite. - “Pelo menos de fome, eles não morrerão”.
Judite agradeceu muito a solidariedade do casal e, no dia seguinte já estava trabalhando como “faxineira” na casa dos benfeitores. Até as crianças puderam ficar na casa, até arrumarem outro lugar para morar e quando isso aconteceu, os patrões lhes deram um dinheiro para o primeiro mês de aluguel em troca dos serviços de Judite durante o mês.
Aline e Carlos eram seus benfeitores; não eram ricos, mas viviam com conforto. Ambos trabalhavam: Aline como professora, Carlos como mecânico. Aline ainda arrumou creche e escola para os meninos para que Judite pudesse trabalhar. Foi aí que Judite voltou a acreditar que o mundo era bom.
Salvo os dias em que fora chamada pelo Juiz, Judite nunca mais viu o marido. Ele deixou a casa que era alugada e nunca mais foi visto. As crianças nunca perguntavam pelo pai, traumatizados pela cena em que viveram.
“Melhor assim”. – refletia Judite. – “Tem gente que não merece ser chamado de pai”.
E a vida seguia seu curso rotineiro. Havia dois anos da separação do casal. Dois anos de felicidade. Sim, era possível ser feliz em um barraco e sendo ajudada por pessoas bondosas.
Julinho, o mais velho, já estava com doze anos, Fernando com dez, Clara com oito, a pequena Rose com seis e Ricardo com quatro. Era muito bom ver a família toda reunida no domingo. À tarde, depois do almoço, as crianças desciam por entre as vielas sentados em papelões ou empinavam pipas. Judite prestava atenção em tudo: nos meninos e na televisão usada, comprada com muito custo.
Nestes dois anos já presenciara chuva forte, mas nada que abalasse os alicerces do morro. E agora, em pleno fim de semana, acontecia a tragédia.

Rumores de vozes, ao longe, começaram a ficar mais forte. Judite volta ao presente. A ajuda finalmente chegara. Os bombeiros pedem que as pessoas soterradas gritem alto para que possam se orientar pelas vozes. Elas gritam e agradecem a Deus.
Dentro do barraco, o ar parece faltar. De repente um som mais forte e, aos poucos, um pequeno orifício na parede da sala onde Judite está, aparece. Aos poucos, um buraco fica maior e uma mão é estendida. É a mão da vida, a mão da solidariedade! O filho menor, Ricardo, é o primeiro a sair, seguido por Clara, Rose, Fernando e Julinho. A mãe fica por último e ajuda os filhos a sair daquela catacumba. Fora alguns arranhões todos estão bem e salvos; o mesmo acontece com tantos outros soterrados, mas há também os que choram seus mortos.
Não há sol, são os pingos da chuva que os acolhem do outro lado, mas há felicidade nos olhos dos bombeiros e das pessoas que choram ao ver o milagre da vida novamente. E todos aplaudem: aplaudem os bombeiros; aplaudem a vida. Judite tenta consolar a vizinha que perdeu entes queridos. Mas, a dor é intransferível. Não há consolo! Os sobreviventes são levados para abrigos em escolas e estádios. É para lá que Judite e os filhos são levados.
É lá que ela se depara com mais um milagre. Uma legião de pessoas que entram e saem carregando mantimentos, colchões e roupas. Uma verdadeira romaria da solidariedade! O sorriso em cada rosto mostra que todos estão felizes, contentes em fazer o bem. São voluntários e trabalhadores que, de repente, compreenderam a verdadeira Fraternidade.  É o próximo que se comove com o semelhante. É a Cruzada do Amor. São os Filhos de Deus!
A que chamado, eles atenderam? Ao chamado do coração, ao chamado do amor. Entre os voluntários estão Aline e Carlos. Judite, agora, sorri. Nada está perdido. Sempre é hora de recomeçar e acreditar.
É tarde e o arco-íris no céu festeja a aliança de Deus com os homens. O sol vai sorrir amanhã. A vida volta à rotina de sempre, mas nada será como antes.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Ousadia: coisa de criança


Ousadia: coisa de criança

                             A calça com suspensórios, abaixo do joelho, a camisa branca em desalinho, meias até o joelho, botinas, boné e um estilingue nos bolsos da calça compunham o figurino de Pedro no primeiro dia de aula daquele ano. Tinha doze anos, mas aparentava dez. Pedro era um menino esperto, olhar vivo, olhos amendoados, marotos, sempre procurando algo mais que os olhos dos outros não viam. Cabelos castanhos escuros, estilo “tigela”, cortados pela mãe.  As mãos grossas denunciavam o trabalho precoce de ajudar a cortar lenha e cumprir as tarefas corriqueiras solicitadas pelos pais. Era inquieto e o fato de não parar no lugar chamava a atenção da professora e demais colegas da classe.  Desde que a última professora deixara o povoado, há um ano, era a mãe quem lhe ensinava a escrita e as contas.
                             Essa primeira avaliação denunciava o desafio que Dona Rosa enfrentaria. Os olhos da professora depararam então com o olhar de Maria.
                             Maria embevecia a todos com um olhar meigo e angelical. Olhos verdes, cabelos loiros arrumados em longas tranças. Era a típica descendente de italianos.  Parecia muito tímida e o rubor que tomava a sua face à simples menção de seu nome tornava-a encantadora. Usava um vestido abaixo dos joelhos, repleto de laços e fitas. Era o seu primeiro dia de aula e nada entendia das letras e das contas. Tinha oito anos. 
                             Aquela figura que parecia sair de um quadro chamara a atenção não só da professora, mas também do menino espevitado. Pedro não se lembra da primeira vez que olhou para Maria, pois seus olhos não se desviaram mais. Aqueles olhos de esmeraldas o deixaram hipnotizado. Naquele olhar estava todo um futuro e por ele a vida se tornara tão importante. Se fossem questionadas as palavras de Dona Rosa naquele dia, com certeza, ele não saberia responder, tão absorto estava naquela imagem de anjo que teimava em não retribuir seu olhar.
                             Maria estava constrangida com aquele menino que não lhe tirava os olhos. Tentou disfarçar, conversar com as amigas, mas nada adiantava. Instintivamente olhou em sua direção. Mas, no momento em que seus olhos fixaram os de Pedro, a química, a atração, o irresistível aconteceu... Aquele olhar a perturbara e, com certeza, passou a fazer parte de seus pensamentos.  
                             A voz da professora ao longe veio quebrar o encanto e trouxe a realidade de volta aos dois corações. Dona Rosa pedira a Pedro, que já que estava alfabetizado, que lesse as frases de boas-vindas escritas no quadro-negro improvisado. Todo importante, ele obedeceu. Com voz alta, meio gaguejando, executou o pedido. Ao término riu, gracejou como se tivesse terminado um ato teatral, mas, tudo isso só tinha uma finalidade: Maria.
                             O que mais o cativara em Maria? A “falinha” mansa, o olhar apreensivo como se a pedir desculpas, o rostinho angelical? Ele não sabia. Era um conjunto perfeito de formas e cores que o deixara inebriado. Era a personificação de um sonho.
                             E Maria? O que mais a cativara em Pedro? A ousadia ao lhe dirigir o olhar. Aquele menino atrevido, bem mais velho, a constrangia e a deixava envergonhada.
                             A partir daquele dia, as aulas foram para Pedro os momentos mais importantes de sua vida. A escola que antes era apenas um motivo para fugir dos afazeres domésticos e momentos de lazer com os amigos, de repente, se tornou significativa e necessária para o seu futuro.      
                             Em casa, a mãe estranhou a mudança. O menino vivia estudando pelos cantos, após as obrigações diárias, embora suspirasse com o olhar perdido em algum ponto da casa.
                             “Deve estar pensando em algum problema de difícil solução”. - pensava dona Antonia, com seus botões.
                               Na verdade, Pedro sonhava acordado. A imagem daqueles olhos verdes o perseguia. Era como um talismã que abriria as portas para a felicidade. A sua vida passou a ter um objetivo: fazer bonito para aquela menina que povoava seus sonhos. Um dia seria professor, se casaria com ela e viveriam felizes para sempre. Essa certeza, ele encontrava nos olhos daquela “italianinha” que, pouco a pouco, lhe retribuía os olhares.
                              Pedro havia conquistado o seu primeiro grande prêmio: o coração de Maria e esta ousadia, na conquista de seus objetivos, seria um traço marcante de sua personalidade.             
                              O tempo foi passando e as crianças crescendo. Entre Pedro e Maria, nascia uma amizade maior do que com outros meninos e meninas de sua idade. Havia uma cumplicidade em tudo que faziam. Uma simples brincadeira de roda no espaço em frente à Igreja, onde sempre davam um jeito de estarem perto um do outro, transformava-se em acontecimento marcante para aquele amor juvenil. Mas, o que acontecia nos corações enamorados não era percebido pelas mães que, sempre atentas, vigiavam as diversões pueris.    
                              Pedro era diferente dos meninos da sua idade. Enquanto os meninos se escondiam “nas saias das mães” com vergonha das meninas, ele era amigo de todas e participava de todas as brincadeiras: de roda, pega-pega, pique, escravos de Jó... E tudo mais que houvesse de interessante naqueles dias de domingo. Seu jogo preferido era “beijo-abraço-aperto de mão”. Gostava de ver as meninas se enrubescerem quando pedia “beijo”. Não ganhava o beijo, mas causava embaraços.
                              Ambos foram crescendo e se distanciando. As brincadeiras de roda não mais aconteciam. As mães não mais permitiam essa intimidade e as meninas, após a missa, tinham que permanecer em casa, ajudando nos afazeres domésticos.
                              Uma crise econômica do pai de Maria distanciou ainda mais os jovens. Ela teve que abandonar a escola para ajudar em casa. Os divertimentos de infância e o estudo foram substituídos por responsabilidades.
                              Aos doze anos, coube a Maria fazer todo o serviço de casa: cozinhar, lavar, além de cuidar das crianças e tratar dos animais domésticos. Embora sentindo falta da presença de Pedro, Maria não reclamava.
                              Sem tempo para lazer, Pedro e Maria pouco se viam. Isso não diminuiu em nada aquele sentimento puro que nasceu no primeiro encontro e um simples olhar era suficiente para transformar à tarde chuvosa em domingo de sol. Nesses momentos mágicos, a voz sumia na garganta e somente os olhos falavam.  
                              Para Pedro, Maria era sua namorada e vice-versa, mesmo que nenhuma palavra fosse dita ou juras fossem feitas. Em seu pensamento, quando completasse vinte anos e Maria dezesseis, conversaria com Luis sobre suas pretensões.
                             A certeza de seu futuro na cidade grande, junto com Maria, fazia com que planos mirabolantes e utópicos fossem a constante naquela cabecinha juvenil. Ele venceria todos os obstáculos, pois tinha ousadia suficiente para isso.
                             Vencer era a palavra de ordem e, com certeza, Pedro era ousado o bastante para converter seus sonhos em realidade.   

( retirado do livro “Pedro Brasileiro” de minha autoria).

Só pra não perder o jeito...


Só pra não perder o jeito...

            Se eu sou um grilo pensante, o meu negócio é pensar e escrever sobre minhas idéias, que muitas vezes divergem da sua, mas gosto de escrever sobre o que vejo, ouço e penso.
            Estava, tranquilamente, ouvindo o rádio do carro no estacionamento de um shopping, quando o locutor falou um assunto que me chamou a atenção: era a respeito de uma pesquisa realizada para medir o grau de felicidade das pessoas do planeta.
            De acordo com a pesquisa, o Brasil está entre o 12º e 15º lugar entre as pessoas entrevistadas. Mas, o que causou estranheza foi que nos demais países há uma relação ente riqueza X felicidade, como é o caso da Suécia que é uma das primeiras colocadas. Até aí, tudo bem. Era de se esperar que as pessoas mais ricas, os países mais desenvolvidos estivessem entre os primeiros colocados. O que causou estranheza e que é o foco de minhas indagações é que no Brasil, a região mais feliz é o Nordeste, enquanto a região Sudeste é que tem o nível menor de felicidade. Se fosse considerada apenas a região Nordeste, o Brasil estaria em 7º lugar na pesquisa. 
            Na minha modesta opinião, de leigo no assunto, isto não me é difícil de entender. Quem conhece bem o povo nordestino, sabe da alegria contagiante destes nossos irmãos. Esbanjam sensualidade, risos e são desprovidos de preconceito. Quem vai ao Nordeste sabe que vai encontrar o riso fácil, a dança sensual e o improviso em cada praia. O povo Nordestino é alegre, independente das condições de pobreza, de desnutrição e de abandono social. Sem políticas públicas que vêm realmente dar-lhes oportunidade de crescimento pessoal e social, uma das taxas mais altas de analfabetismo está centrada na região. É claro, que estou me referindo a classe de menos recursos e não as elites privilegiadas.
            Se fizermos uma análise mais detalhada talvez cheguemos à conclusão que é o Sol o responsável por toda essa felicidade, uma vez que ele está presente a maior parte do ano e movimenta o turismo na região, mas não podemos esquecer que também é ele o responsável pela seca que deixa o nordestino da zona rural tão desprotegido. Mas, mesmo assim, há os que cantem em versos as dificuldades sertanejas. Podemos também supor que a pesquisa não constou os sertanejos que sofrem todo tipo de dificuldades pela seca e se migram para a região Sudeste procurando melhores condições de vida. Talvez, por isso, a região Sudeste esteja qualificada na outra ponta da pesquisa.
              Acho que Deus resolveu compensar os nordestinos pelas dificuldades da vida e lhes deu de presente, a alegria e as belezas naturais que ali estão. Admirando o Belo, o nordestino sorri não lamentando a sorte, mas aproveitando cada instante. Já para os nordestinos que vêm para o Sudeste têm que conviver com o estresse da vida moderna: o trânsito caótico das cidades grandes, a barulheira do dia a dia, a vida que não pára sempre em busca de novas oportunidades, por isso, talvez, eles prefiram viver perto do mar, para sentir menos saudades de sua terra. O ritmo de cidades como São Paulo, não combina com a alma nordestina.  Mesmo assim, aqui no Sudeste, podemos constatar o riso fácil e o humorismo constante e contagiante dos nossos irmãos nordestinos. Vestígios da Terra Natal.
            Já na região Sudeste, o povo não tem muito tempo para ser feliz. Responsável pela maior economia e distribuição de impostos do País, a Capital de São Paulo, principalmente, deve ter contribuído pelo nosso índice na pesquisa citada acima: a região mais triste do Estado, devido a sua vida corrida e a luta pela sobrevivência de cidade grande que recebe o maior número de imigrantes de outras regiões do Estado, por isso convive com toda a sorte de dificuldade e má distribuição de renda, excluindo aqui, é claro, a elite privilegiada.
            O importante é que na região Sudeste, o povo recebe de braços abertos todos que por motivos diversos quiserem aqui se estabelecer e procurar melhores oportunidades de vida. É bom lembrar que amamos a alegria do povo nordestino e que eles contribuem, e muito, pelo progresso e geração de renda do Estado. Mas, é aqui eles recebem a acolhida para se estabelecer e, mais tarde, quem sabe, retornar a sua terra natal.
            Veio em minha mente, agora, a história da cigarra e da formiga que todos nós conhecemos, mas isso envolve a classe política e não o povo trabalhador. Enquanto o povo trabalha, a classe política “deita e rola”. Será que tem algo a ver com a região de onde eles vieram? Acho que não, há praga corrupta de todas as regiões.
            É melhor não “cutucar” agora. É foco de outra história. Fui.
              

O tempo


O Tempo

O Tempo, o senhor dos destinos,
Novamente, mudou as estações e o ciclo da vida.
O verão foi seguindo a primavera que conquistou seu coração.
O quente e envolvente verão se envolveu com a primavera juvenil
Com suas flores e seu perfume sutil e partiu...

Veio o outono
 E em vão procurou pela primavera e pelo verão.
A primavera, aquela que conquistou seu coração.
Abandonado, sozinho e magoado pela traição,
 Rancoroso, soltou rajadas de ventos,
Tornando perigoso o desenrolar do tempo.

Para que o destino fosse mais ameno,
O tempo, o senhor das estações, resolveu intervir,
Era hora de o outono partir,
Deixando as folhas secas no chão
E, ele partiu em busca do verão...

O Tempo trouxe, então, o inverno.
Ele chegou frio, amargurado, implacável,
Com seu rosto nada amável: gélido, indecifrável.
Não foi assim que o Tempo sonhou “o tempo”.
O inverno o decepcionou!

Ele pensou... Pensou...
Viu que tudo era só uma questão “de tempo”
Era só esperar... Logo o inverno ia partir,
Cumprindo assim o ciclo: princípio, meio e fim,

As estações, na roda da vida, iriam retornar.
A doce primavera, o animado verão,
O romântico outono, o inverno infeliz...
Mas cada estação com o seu encanto:
Fará a terra novamente feliz!

quarta-feira, 6 de março de 2013

O preço da fama: Box 32


O PREÇO DA FAMA


                     Manhã de sol. Florianópolis. O destino era a Praia de Canavieiras, onde meus amigos passariam alguns dias. Primeira viagem ao Sul do Brasil. Eu, grilo pensante, também estou de férias, viajando em anonimato dentro do carro. A economia é algo estranho, porque procuram “economia” nos lugares em que mais gastam dinheiro. Os humanos gastam pensando em economizar. Para ser mais claro, sempre que vão viajar dizem:
                     -Precisamos economizar na viagem.
                     Bem, se era para economizar porque não ficam em casa. Estou brincando, sempre é bom viajar. Perto ou longe não importa, mas, ficar em casa é deixar de lado um mundo de oportunidades de conhecer lugares novos, novas culturas, mas implica em gastos gastronômicos e muitas vezes, supérfluos. Se quiserem levar lembrancinhas da viagem, aí sim que ninguém viaja. Viajar é muito bom.  Viajar é tornar o mundo interno maior e aumentar a nossa capacidade de relação com o mundo em que vivemos. Não importa o percurso da viagem, os meios de transportes que vamos dispor para isto e que, é claro, têm relação com o nosso bolso, ou melhor, com a nossa economia. O importante é o nosso bem estar, a nossa paz de espírito.
                     E foi com esse espírito que meus amigos desembarcaram em Florianópolis, no centro, para conhecer o Mercado Municipal da Capital e daí que narro esta aventura:  
                     - Tenho uma sugestão para hoje. Conhecer o Box 32 no Mercado Municipal e almoçar os pastéis deliciosos de lá. Li uma reportagem a respeito. – sugeriu Ângela, a assessora para assuntos turísticos. Ela havia assistido Ana Maria Braga fazendo “merchandising” sobre o Box 32, o quão era importante conhecê-lo.
                     Essa ideia agradou em cheio, seriam dias exaustivos de praia, sol e restaurantes sofisticados na bela Florianópolis, dar uma trégua ao estômago e ao bolso lhes parecia à melhor pedida. Tinham muitos almoços e jantares pela frente e a ideia de economizar, mesmo que remota, pareceu tentadora.
                     Decisão tomada! Após a manhã de praia, lá estavam todos se aventurando no trânsito desconhecido, ávidos para chegar ao destino.
                     - Onde fica o Mercado Municipal?- indagava Didi, o “motorista trainer"  do grupo, aos motoristas que perfilhavam ao nosso lado.
                    Indagações aqui e ali e eis que chega um taxista “salvador”:
                   - Mercado Municipal? Vou para lá. Sigam-me.
                   Estávamos, realmente, escoltados pelo motorista da frente. De pisca-alerta ligado, tomando atenção para que não nos perdêssemos, ele nos conduziu até o estacionamento próximo ao Mercado Municipal.
                  -Pronto, chegamos. Fico por aqui.
                  O taxista benfeitor os deixou à volta com a questão de estacionamento, rapidamente resolvida pelo grupo e todos pudemos se concentrar no objetivo principal:
                  - Box 32. Almoço do dia: pastéis.
                  O mercado, imponente em sua construção, diferenciava em muito com o seu interior.  Boxes apertados, sem muita atenção com o senso estético e artístico que a construção exigia, dando a primeira impressão de coisa barata e sem qualidade, o que não se confirmou.  Pessoas circulavam pelos corredores, verificando as mercadorias e efetuando suas compras.
                  - Box 32. É aqui. Me disseram que não podemos vir a Florianópolis sem comer estes deliciosos pastéis.  – advertiu Ângela.
                  O Box 32 ficava na vertical em frente aos corredores. Muito bem montado com mesas e bancos para acomodação dos fregueses em toda sua extensão. Garçonetes de uniformes davam graça e singularidade ao local. Para refrigerar o ar e diminuir o calor, um equipamento sofisticado estava instalado acima dos fregueses. Uma hélice giratória proporcionava uma brisa suave, deixando o ambiente agradável.
                  -É a minha cara. Pode mandar uma da melhor pinga que tiver. Três chopes, urgente! – falou Beto, antecipando-se aos demais.
                  - É a melhor do país. - respondeu a garçonete, apresentando-lhes o cardápio com letras miúdas, indecifráveis a qualquer míope assumido ou a qualquer pessoa que já passou dos cinquenta. A Ângela, a única não míope, a responsabilidade do pedido. Ela olhou, voltou a olhar e fez o pedido coletivo:
                 -Um pastel de bacalhau e um chope.
                 Eram quatro casais e ela só poderia estar brincando:
                 -O que? Um pastel e um chope? E os outros? –perguntou Beto.
                 -Acho melhor você ver sozinho, ou melhor, empresta uns óculos e veja isto. - ela advertiu
                 O ar de indignação que estampou no  rosto do Beto, deu ao grupo pistas de que os regimes não seriam quebrado naquele momento.
                 -É muito caro. O melhor é pedir um pastel para cada e almoçar em outro lugar.
                 Neste ínterim, o Didi que havia saído, retornou e alheio a nossa conversa e avesso a “pão durismo” em período de férias, falou indignado:
                 - Porque vocês não pediram porções.  Peçam logo uns quatro bolinhos de bacalhau e uns dois pastéis para cada.
                 - Bem, olha os preços. O seu pastel de bacalhau custa R$ 30,00 (preço muito maior do que pastelarias da cidade). O preço do bolinho de bacalhau é quatro vezes maior ao que se paga normalmente.
                 - O quê?  Tudo isto. É um roubo. Suspende tudo.
                 Impossível, pois o nosso pedido já estava a nossa frente. O tamanho do pastel decepcionava; em nossa cidade, o pastel de era bem maior. O Box 32, de repente, se transformou num lugar para otários indefesos em férias.
                 A conta chegou.  Outro choque. O preço era de um almoço para duas pessoas em um restaurante de boa qualidade. Pago por um pastel de bacalhau, uma pinga, três chopes e um suco.
                - É o preço pago por essa brisa agradável.
                Pagaram a conta, mas inconformados com o prejuízo e devido ao adiantado da hora, decidiram driblar o estômago continuando a refeição no Box 34, em frente ao “famoso”, não sem antes de verificar o cardápio: o preço era razoável para um pastel. Posicionaram-se em uma mesa em frente ao mesmo, na tentativa de que, mesmo indiretamente, desfrutar-se da brisa que o Box 32 proporcionava aos clientes.
                O término da tarde não foi como planejaram, mas conseguiram assunto para o resto das férias. De uma coisa eles têm certeza:
               “Box 32, recomendação aos inimigos. Aos amigos: Box 34, se a prioridade for conhecer o Mercado Municipal”.
                A lição do dia sabiam de cor: Paga-se o preço do nome, da fama. Em um país que tem a mais alta taxa tributária do mundo, ainda se corre o risco de ser lesado no comércio. O jeito bom mesmo é de pechinchar. Verificar preços e comprar o que for estritamente necessário, senão nosso salário “vai pro ralo”. E, não se esqueçam de guardar sempre um “dinheirinho” para viagens.
                Foram dias maravilhosos em Florianópolis, em especial, na praia de Canavieira, mas isso é assunto para outra história.  Fui.                                                                           

A natureza chora


A NATUREZA CHORA

Oh! Senhor das matas e de tudo que nela habita,
Protegei a Biodiversidade!
Tanta variedade de vida que dependem de nós.
Esse grito de alerta é um clamor global.
Viva a sustentabilidade ambiental!

Salve a biodiversidade!
Flora e fauna correm risco de extinção.
Acabai com a devastação!
Árvores de grande porte que trazem sombra e umidade,
São derrubadas sem critério, nem piedade!
Povo sem coração!

As nossas floretas mudam de tom.
O tom verde se torna marrom, cor do tronco derrubado.
E a fumaça preta? Há poluição ambiental por todo lado.
O solo está mais árido e aumenta a erosão a cada dia.
Que covardia!

                                                       Por isso piedade!
O homem deixado por vós como guardião,
Comporta-se como um ladrão.
Na calada da noite, o desastre principia,
Caminhões com madeira levam “a mata inteira”,
E na luz do dia, apenas um clarão no chão.
Decepção!

Que tormento! Não há reflorestamento!
O equilíbrio do ecossistema está ameaçado.
Ouça os sons dos pássaros, perceba os seus ais.
É o choro dos animais.
Não podemos ouvir calados!
Por isso Senhor, salve nossa fonte de vida!
Para que a criança possa, no futuro, admirar tanta beleza.
Preserve este presente de Deus, esta mãe Natureza!
Amém.


A grande Metrópole "São Paulo"


A Grande Metrópole “São Paulo”

O sol ainda não apareceu
Mas o tumulto, já esperado, acontece.
Buzinas... Gritos... Confusões.
Todos têm pressa...
Pressa para chegar a algum lugar.
Mas a cidade está parada
No trânsito caótico da Cidade Grande.
Ela que tudo oferece: emprego, lazer, amizade,
Torna-se o ponto de discórdia de toda aquela gente.

Gente com pressa que range os dentes
Sentada nos assentos de seus carros,
Que se torna animal, irracional, querendo chegar,
Se aprofundar, infiltrar-se no centro,
No seio do caos alucinante da grande Metrópole.

Todo dia é igual, todos conhecem o dilema.
A indignação, o nervosismo, o estresse fazem parte da rotina,
É o começo de um dia de trabalho.

E, quando o dia termina, as pessoas partem felizes,
Prontas a enfrentar a volta para casa:
Buzinando, xingando, se agredindo,
E enfrentando todos os percalços da vida moderna.
É a hora do “rush”.
Só depois, quando tudo se acalma...
É que a cidade, finalmente, consegue dormir...