Pés descalços...
Pés carcomidos, endurecidos,
Encardidos pelo preto do asfalto.
Pés descalços
Cor e cheiro de morte.
A vagar pelas vielas da vida,
Mais uma infância perdida,
Entregue a própria sorte.
Pés que pisoteiam a alma,
Machucam a consciência,
Dos que ainda têm decência,
E lutam para mudar a história.
Pés que clamam por justiça,
Luta desigual, aleatória, imoral,
Longe de decisões satisfatórias
Para extirpar o mal.
Pés calejados, endurecidos pela vida,
Nunca tiveram carinho, amor, afeição,
Mas procuram no trabalho duro,
Ganhar honestamente o seu pão.
São frutos da discriminação, do desamor,
Não tem esteio, nem identidade,
E vivem como perdedores,
A margem da sociedade.
Esses pés são marcas do tempo,
De quem não teve escolha, opção,
Nem lar para chamar de seu.
Vivem nos becos, nas pontes,
Nas favelas, nas vielas,
Onde sua infância perdeu.
Esses pés de brasileiros
Multiplicam-se a cada dia,
Como uma enorme romaria.
São os descamisados, analfabetos,
Drogados, mal amados,
Desconhecidos da apressada maioria
Que circula no dia a dia.
Onde estão seus sonhos?
Onde está a sua história?
Perdeu-se na vida agitada,
Da “Paulicéia desvairada”
Como Andrade assim chamou.
Até que um poeta “maluco beleza” apareça,
E com sua realeza os faça crer,
Que sempre é tempo de vencer.
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