domingo, 30 de setembro de 2012

Pingo




                                                        Pingo

A vida era boa. Ela era feliz. Era uma jovem senhora, casada, mãe de um casal de filhos e com uma vida economicamente bem confortável. Gerson era vendedor e, modéstia a parte, sabia vender muito bem. Tinha uma boa lábia e convencia ao apresentar o produto.
Gabi ficava em casa esperando o marido e cuidando dos filhos. Gostava de cozinhar e para ter seu próprio dinheiro, por isso, vivia às voltas com uma deliciosa tentação: o chocolate. Fazia maravilhas com chocolates e tinha uma grande freguesia. Ninguém resistia aos encantos de seus bombons maravilhosamente embalados com esmero! Com certeza era responsável pela felicidade de muitos chocólatras.
Mas, os filhos foram estudar fora e Gabi começou a se sentir irremediavelmente só. Ela que sempre falou pelos cotovelos, inesperadamente parou de falar. Ficava pelos cantos da casa esperando telefonemas dos filhos. Pouco a pouco, foi murchando, não sentia prazer nem mesmo em fazer e comer bombons. Chocolates, nem pensar!
Gerson percebeu sua tristeza e tudo fazia para reanimá-la. Um dia, em uma feira de animais, viu um peixinho vermelho e, imediatamente, pensou na esposa. Ela gostaria do presente.
O presente surtiu efeito. O rosto bonito de Gabi voltou a sorrir, ela adorou o presente; agora tinha com quem conversar. Está certo, ele não respondia, mas escutava passivamente.
Cuidar de Pingo, nome dado ao peixinho, a fazia imensamente feliz. Por ele, Gabriela se derretia. A depressão ficou longe de sua rotina e Pingo era sua companhia enquanto o marido trabalhava.  E foi assim que Pingo começou a fazer parte da família e isso, ajudava na saudade que sentia dos filhos.
Os dias foram passando, mas, um dia, Gerson foi incumbido de alimentar Pingo. Gabi fora ao médico e ia demorar. Inexperiente, Gerson colocou mais comida do que devia. Quando Gabi voltou do médico, deparou-se com a tragédia: Pingo estava de barriga para cima, inchado... Morto!
Gabi ficou inconsolável. Novamente, a depressão voltou a rondar sua porta. Ela não culpou ao marido, mas Gerson se sentiu culpado.  Ele pensou em todas as formas de reanimar a esposa, mas nada surtia efeito. Somente a visita nos filhos nos fins de semana conseguia alguma melhora.
Um dia, ao passar por um “pet shop”, Gerson se deparou com uns peixinhos sendo vendidos.
“Como não pensei nisso antes? Darei de presente a Gabi um peixinho igual a Pingo”- pensou animado.
Resolução tomada. Lá estava Gerson com um saquinho de água onde nadava o novo Pingo. Pelo caminho foi imaginando a reação da mulher ao presente e em como fazê-la ainda mais feliz. Decidiu surpreender a esposa colocando o peixinho no mesmo aquário do Pingo anterior. Depois, veria a reação de Gabi.
Gerson chegou animado em casa. O peixe custou o “olho da cara”, mas valeria à pena. Percebeu que Gabi estava com visitas. Tanto melhor, a surpresa seria ainda melhor. O aquário cheio de água estava ali. O novo Pingo agora tinha uma casa.
Jogou o peixe no aquário, mas ficou boquiaberto com a reação do peixe. Ele começou a pular na água. Devia estar muito feliz. Gerson pegou o aquário com o peixe pulando e foi em direção a sala onde Gabi conversava com uma amiga.
- Gabi, Gabi, venha ver a surpresa! – disse quase gritando.
Gabi correu ao seu encontro a tempo de ver o peixinho pulando.
- O que aconteceu? Por que essa gritaria?
 Gerson não teve tempo de responder. O peixe deu um salto mortal e, literalmente, suicidou-se pulando do aquário e espatifando-se no chão da área de serviço.
Gerson olhou para o peixe, olhou para o aquário:
-Seu peixe. Eu trouxe o Pingo de volta, mas...
-Gerson, o aquário está com água sanitária! Resolvi dar o aquário para Regina, minha amiga, e deixei-o de molho na água sanitária.
Gerson caiu de joelhos no chão. O peixinho custou tão caro!
E assim, Gabi não quis mais nenhum peixinho. Acostumou-se com a ausência dos filhos e voltou a fazer seus chocolates. Não queria mais saber de tristeza e agora tinha muitas histórias para contar às amigas: as peripécias de Gerson. 

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