Pingo
A vida era boa. Ela era feliz. Era uma jovem senhora,
casada, mãe de um casal de filhos e com uma vida economicamente bem
confortável. Gerson era vendedor e, modéstia a parte, sabia vender muito bem.
Tinha uma boa lábia e convencia ao apresentar o produto.
Gabi ficava em casa esperando o marido e cuidando dos
filhos. Gostava de cozinhar e para ter seu próprio dinheiro, por isso, vivia às
voltas com uma deliciosa tentação: o chocolate. Fazia maravilhas com chocolates
e tinha uma grande freguesia. Ninguém resistia aos encantos de seus bombons
maravilhosamente embalados com esmero! Com certeza era responsável pela
felicidade de muitos chocólatras.
Mas, os filhos foram estudar fora e Gabi começou a se
sentir irremediavelmente só. Ela que sempre falou pelos cotovelos,
inesperadamente parou de falar. Ficava pelos cantos da casa esperando
telefonemas dos filhos. Pouco a pouco, foi murchando, não sentia prazer nem
mesmo em fazer e comer bombons. Chocolates, nem pensar!
Gerson percebeu sua tristeza e tudo fazia para
reanimá-la. Um dia, em uma feira de animais, viu um peixinho vermelho e,
imediatamente, pensou na esposa. Ela gostaria do presente.
O presente surtiu efeito. O rosto bonito de Gabi
voltou a sorrir, ela adorou o presente; agora tinha com quem conversar. Está
certo, ele não respondia, mas escutava passivamente.
Cuidar de Pingo, nome dado ao peixinho, a fazia
imensamente feliz. Por ele, Gabriela se derretia. A depressão ficou longe de
sua rotina e Pingo era sua companhia enquanto o marido trabalhava. E foi assim que Pingo começou a fazer parte da
família e isso, ajudava na saudade que sentia dos filhos.
Os dias foram passando, mas, um dia, Gerson foi
incumbido de alimentar Pingo. Gabi fora ao médico e ia demorar. Inexperiente,
Gerson colocou mais comida do que devia. Quando Gabi voltou do médico,
deparou-se com a tragédia: Pingo estava de barriga para cima, inchado... Morto!
Gabi ficou inconsolável. Novamente, a depressão
voltou a rondar sua porta. Ela não culpou ao marido, mas Gerson se sentiu culpado. Ele pensou em todas as formas de reanimar a
esposa, mas nada surtia efeito. Somente a visita nos filhos nos fins de semana
conseguia alguma melhora.
Um dia, ao passar por um “pet shop”, Gerson se
deparou com uns peixinhos sendo vendidos.
“Como não pensei nisso antes? Darei de presente a
Gabi um peixinho igual a Pingo”- pensou animado.
Resolução tomada. Lá estava Gerson com um saquinho de
água onde nadava o novo Pingo. Pelo caminho foi imaginando a reação da mulher
ao presente e em como fazê-la ainda mais feliz. Decidiu surpreender a esposa
colocando o peixinho no mesmo aquário do Pingo anterior. Depois, veria a reação
de Gabi.
Gerson chegou animado em casa. O peixe custou o
“olho da cara”, mas valeria à pena. Percebeu que Gabi estava com visitas. Tanto
melhor, a surpresa seria ainda melhor. O aquário cheio de água estava ali. O
novo Pingo agora tinha uma casa.
Jogou o peixe no aquário, mas ficou boquiaberto com a
reação do peixe. Ele começou a pular na água. Devia estar muito feliz. Gerson
pegou o aquário com o peixe pulando e foi em direção a sala onde Gabi
conversava com uma amiga.
- Gabi, Gabi, venha ver a surpresa! – disse quase
gritando.
Gabi correu ao seu encontro a tempo de ver o peixinho
pulando.
- O que aconteceu? Por que essa gritaria?
Gerson não
teve tempo de responder. O peixe deu um salto mortal e, literalmente, suicidou-se
pulando do aquário e espatifando-se no chão da área de serviço.
Gerson olhou para o peixe, olhou para o aquário:
-Seu peixe. Eu trouxe o Pingo de volta, mas...
-Gerson, o aquário está com água sanitária! Resolvi
dar o aquário para Regina, minha amiga, e deixei-o de molho na água sanitária.
Gerson caiu de joelhos no chão. O peixinho custou tão
caro!
E assim, Gabi não quis mais nenhum peixinho.
Acostumou-se com a ausência dos filhos e voltou a fazer seus chocolates. Não
queria mais saber de tristeza e agora tinha muitas histórias para contar às
amigas: as peripécias de Gerson.
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