domingo, 28 de outubro de 2012

Violência Urbana



                                                      Violência Urbana

Fernando, 23 anos. Codinome: Nando. Quando criança viveu em um orfanato, a mãe alcoólatra e acusada de pequenos roubos perdera a guarda do filho. No orfanato, viveu até os dez anos, quando foi novamente entregue à mãe que já havia cumprido pena.
Maria, a mãe, vivia do trabalho como doméstica e do dinheiro que o filho ganhava fazendo pequenos bicos. Mas, logo, tudo mudou. Sentindo-se sozinha, ela se uniu a Teodoro, um sujeito agressivo e possessivo. Nando ficou revoltado com essa união e descontava seu inconformismo aprontando na escola e em sua casa. O casamento com Teodoro, além da revolta de Nando, trouxe a Maria mais sofrimento. Freqüentemente, o companheiro lhe batia e ameaçava o enteado. Um dia, de tanto apanhar, Maria veio a falecer e Nando viu seu último elo familiar desmoronar. Saiu do morro disposto a matar o padrasto, mas Teodoro se evaporou e nunca mais foi visto.
Nando começou a viver nas ruas, tornou-se “aviãozinho” do tráfico. Durante uma “blitz” foi preso por policiais. Pegou dois anos de FEBEM; vida difícil e sofrida. Participou de rebeliões, foi recapturado e passou por todo o tipo de provações.  Estava marcado pela dor e rebeldia!
Aos dezoito anos, Nando ganha a liberdade. Cai uma chuva fina e ele sente frio. Frio na alma! A rua, novamente, será seu lar. Senta-se embaixo de uma ponte. A fome é aliviada com um sanduíche a beira da calçada, comprado com os últimos tostões que ainda lhe restavam. Seus pensamentos não lhe dão trégua.  
De repente, o barulho de um menor correndo seguido por passos fortes de pessoas que vêm ao seu encalço. O menino vai até uma lixeira, joga nela alguma coisa e foge em disparada, sem prestar atenção em Nando que se escondeu atrás de um muro bem perto da lixeira.
A curiosidade leva Nando até a lixeira. Vê uma carteira, pega e a coloca com rapidez no bolso. Sorri, é um prêmio por tudo que passou. Não vai devolver a carteira. O dinheiro é seu, ele o achou!
Olha para o lado e vê que não está sozinho. Alguém grita do outro lado da rua.
- Hei você! Pega ladrão!
Os gritos são seguidos pela sirene de um carro de polícia. Nando foge desesperado, pulando muros e desvencilhando-se em vielas escuras. O som da sirene se intensifica. Nando sente medo, se for descoberto, vai voltar para a prisão. Avista uma casa e arromba a porta com truculência. Na sala, uma jovem mulher, assustada, dá um grito ao vê-lo no centro da sala:
-Boca calada, dona! Não quero matá ninguém, mais você tem que colaborar.
-O que você quer? Leve o que quiser.
-Não quero nada da madame. Só quero meu dinheiro. Eu não vô a.ssaltar a senhora! 
-O que você quer? Não me mate!
- Fique quietinha, não quero se aborrecer. Eu não robei nada. Acabei de achá uma carteira. Achei no lixo. Achado não é robado. Ela é minha.
As sirenes ficam mais altas. A rua está silenciosa, mas o barulho de passos aumenta. A casa é cercada por policiais. Nando se desespera. Sua mão dentro do bolso do blusão insinua uma arma. Jurema se amedronta:
-Por favor, se entrega. Eu ajudo você!
Nando não responde. Os minutos passam... Passos, abafados, são ouvidos na sala silenciosa. Nando pressente os policiais subindo as escadas.
Jurema percebe que a arma é um blefe e espera uma oportunidade. Quando ela surge, a mulher se arrisca e corre até a porta, abrindo-a e escondendo-se atrás dela.
Os policiais entram atirando na direção de Nando. Ele cai.
- Ai! Me acertaram! Desgraçados!
Jurema se desespera, quer ajudá-lo:
- Me desculpa, moço! Eu não sabia que eles iam entrar atirando. A culpa foi minha!
-Meu destino tava traçado, moça. Não se culpe não. Eu sou o culpado!
Jurema se aproxima e coloca a cabeça de Nando em seus ombros; ele parece sorrir.  Jurema pede aos policiais que não se aproximem. As mãos saem do bolso do blusão retalhado pelas balas. Não há revólver. Nando observa o vazio:
- Moça, olha lá no alto! É a minha mãe! Ela veio me buscar.
Não há mais nada a fazer. A carteira é levada por eles. Mais um caso resolvido!
Nando é mais um engolido pela “selva de pedra” que, novamente, uniu vidas espalhando morte.
Os sinos da capela anunciam mais um sepultamento. Somente uma pessoa acompanha o carro fúnebre. É Jurema. 

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