domingo, 28 de outubro de 2012

Macambuzeando


REFLEXÕES DO GRILO

            Hoje acordei meio “macambúzio”, pensativo por demais. Isto tudo depois de ouvir uma conversa entre duas pessoas aqui na biblioteca. Cheguei à conclusão que nada sei do mundo dos humanos, mas grilo também pensa na vida e como herdei uma paixão “mal correspondida” pelas pessoas, especialmente pelos brasileiros, o diálogo que ouvi me marcou profundamente. Posso não ser humano, mas consigo ver e sentir a alma deles por causa da minha convivência, nem sempre pacífica com eles, tento compreender e entender sua forma de viver vida.  Fico na minha, prestando bastante atenção e depois dou os meus “pitacos”. Eis o diálogo que me fez perder o sono:
            Duas jovens senhoras estavam conversando a respeito da vida. Um que chamarei de Maria e outra de Mercedes, amigas há muito tempo. Falavam sobre as questões humanitárias que tomavam seus pensamentos. Ambos já estavam aposentadas e tinham um pouco mais de 50 anos.
            Maria dizia:
            - É muito gozada essa vida. Quando somos jovens, queremos ficar adultos logo para realizar todos os nossos sonhos. Sair daquela fase de contestação e partir para a luta, realizar sonhos, ideais, ter liberdade. No meu tempo de estudante, minha vida era protestar. Saiamos em defesa dos menores abandonados, dos baixos salários... Criticávamos os falsos policiais, as milícias, etc. A nossa lei de ordem era que se pagávamos impostos tínhamos o direito de exigir e escolher nossos representantes.
            Mercedes concordava:
            - O tempo foi passando e continuamos votando e criticando os mesmos governos. Numa visão mais macro tomamos partido em eleições e na vida até de outros países como a eleição nos Estados Unidos, na Argentina, na Venezuela, casamentos na Inglaterra e assim vai... A globalização serviu para que todos virassem comentaristas críticos deste mundo globalizado. Até aí, tudo bem. Mas a crítica por si só adianta alguma coisa? Estávamos realmente realizando algo? Com certeza, eu não estava. Se você é jornalista, político ou alguém que possa influir diretamente no assunto pode ser que sim, mas, a maioria só fica na palavra, não na ação... Acabam tendo outras prioridades: namoradas, lazeres, empregos... E o bem comum é deixado de lado!
            Maria continuava:
            -Depois nos casamos e passamos a cuidar dos filhos que são realmente as pessoas mais importantes de nossas vidas. Isso quando não precisamos trabalhar para ajudar no orçamento doméstico e delegamos às empregadas a difícil tarefa de educar nossos filhos. Não era falta de amor, era necessidade. Era o desejo de nos afirmarmos como pessoas, como profissionais e procurar nosso espaço. O nosso tempo livre era dedicado a eles, mas foi suficiente? Se não tínhamos tempo para os filhos, era justo que deixássemos de lado os demais problemas que nos afligiam: as questões humanitárias.
            Mercedes continuou o diálogo:
            - E quando nos aposentamos, com tempo para pensar no que fizemos realmente pelos nossos semelhantes, constatamos que não fizemos nada.  Uma ou outra ajuda aqui ou ali, jantares beneficentes e vamos levando a vida sem olhar dos lados... Aliás, isso não é nada diante das necessidades de muitos. E muitas vezes estávamos ocupadas com viagens, com nossos filhos, netos... Às vezes até tentamos ajudar um ou outro grupo, mas sempre com a sensação que estamos perdendo tempo... - completou Mercedes.
            As jovens senhoras se distanciaram e eu fiquei pensando: Que triste chegar a esta idade sem ter algo de concreto que avalie o real motivo da vida. Se esta vida é de passagem, o que se leva de saldo positivo para outra vida? Será que cuidar de sua vida, ser caridoso, religioso, é suficiente? Será que muitos não estão perdendo tempo?
            Acho bom achar a resposta logo, porque o nosso tempo aqui é curto. Logo será a prova final, o vestibular! E depois, não há mais chances.
            Desculpe, hoje eu, o grilo pensante, extrapolei... Vou saindo de fininho, antes que seja tarde para mim também. Fui...

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