REFLEXÕES DO GRILO
Hoje
acordei meio “macambúzio”, pensativo por demais. Isto tudo depois de ouvir uma
conversa entre duas pessoas aqui na biblioteca. Cheguei à conclusão que nada
sei do mundo dos humanos, mas grilo também pensa na vida e como herdei uma
paixão “mal correspondida” pelas pessoas, especialmente pelos brasileiros, o
diálogo que ouvi me marcou profundamente. Posso não ser humano, mas consigo ver
e sentir a alma deles por causa da minha convivência, nem sempre pacífica com
eles, tento compreender e entender sua forma de viver vida. Fico na minha, prestando bastante atenção e
depois dou os meus “pitacos”. Eis o diálogo que me fez perder o sono:
Duas
jovens senhoras estavam conversando a respeito da vida. Um que chamarei de Maria
e outra de Mercedes, amigas há muito tempo. Falavam sobre as questões
humanitárias que tomavam seus pensamentos. Ambos já estavam aposentadas e tinham
um pouco mais de 50 anos.
Maria
dizia:
-
É muito gozada essa vida. Quando somos jovens, queremos ficar adultos logo para
realizar todos os nossos sonhos. Sair daquela fase de contestação e partir para
a luta, realizar sonhos, ideais, ter liberdade. No meu tempo de estudante,
minha vida era protestar. Saiamos em defesa dos menores abandonados, dos baixos
salários... Criticávamos os falsos policiais, as milícias, etc. A nossa lei de
ordem era que se pagávamos impostos tínhamos o direito de exigir e escolher
nossos representantes.
Mercedes
concordava:
-
O tempo foi passando e continuamos votando e criticando os mesmos governos. Numa
visão mais macro tomamos partido em eleições e na vida até de outros países
como a eleição nos Estados Unidos, na Argentina, na Venezuela, casamentos na Inglaterra
e assim vai... A globalização serviu para que todos virassem comentaristas
críticos deste mundo globalizado. Até aí, tudo bem. Mas a crítica por si só
adianta alguma coisa? Estávamos realmente realizando algo? Com certeza, eu não
estava. Se você é jornalista, político ou alguém que possa influir diretamente
no assunto pode ser que sim, mas, a maioria só fica na palavra, não na ação... Acabam
tendo outras prioridades: namoradas, lazeres, empregos... E o bem comum é
deixado de lado!
Maria
continuava:
-Depois
nos casamos e passamos a cuidar dos filhos que são realmente as pessoas mais importantes
de nossas vidas. Isso quando não precisamos trabalhar para ajudar no orçamento
doméstico e delegamos às empregadas a difícil tarefa de educar nossos filhos.
Não era falta de amor, era necessidade. Era o desejo de nos afirmarmos como
pessoas, como profissionais e procurar nosso espaço. O nosso tempo livre era
dedicado a eles, mas foi suficiente? Se não tínhamos tempo para os filhos, era
justo que deixássemos de lado os demais problemas que nos afligiam: as questões
humanitárias.
Mercedes
continuou o diálogo:
-
E quando nos aposentamos, com tempo para pensar no que fizemos realmente pelos
nossos semelhantes, constatamos que não fizemos nada. Uma ou outra ajuda aqui ou ali, jantares
beneficentes e vamos levando a vida sem olhar dos lados... Aliás, isso não é
nada diante das necessidades de muitos. E muitas vezes estávamos ocupadas com
viagens, com nossos filhos, netos... Às vezes até tentamos ajudar um ou outro
grupo, mas sempre com a sensação que estamos perdendo tempo... - completou
Mercedes.
As
jovens senhoras se distanciaram e eu fiquei pensando: Que triste chegar a esta
idade sem ter algo de concreto que avalie o real motivo da vida. Se esta vida é
de passagem, o que se leva de saldo positivo para outra vida? Será que cuidar
de sua vida, ser caridoso, religioso, é suficiente? Será que muitos não estão
perdendo tempo?
Acho
bom achar a resposta logo, porque o nosso tempo aqui é curto. Logo será a prova
final, o vestibular! E depois, não há mais chances.
Desculpe,
hoje eu, o grilo pensante, extrapolei... Vou saindo de fininho, antes que seja
tarde para mim também. Fui...
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