NAS GARRAS DA LEI
O lugar é paradisíaco. Do alto
do morro, as ondas batem nas pedras e voltam para o mar dando a sensação que o
paraíso começa ali. Condomínio fechado, prédios arquitetonicamente desenhados
para que a vista do mar seja a mais privilegiada possível. Morar ali é para
poucos; para os afortunados. Mas, embora o condomínio se gabe da vigilância
perfeita, sofrera alguns assaltos nos últimos anos, o que pôs os moradores em
alerta.
Marina era uma destas
moradoras. Ela e o marido Oscar eram uns dos mais antigos condôminos do
“Paradise Center”. O fato de morar em uma cidade como São Paulo fez com que o
casal procurasse o sossego da praia, o que até então tinham conseguido.
Mas, a paz tão procurada estava
ameaçada. Marina andava apavorada e
junto com o marido tomaram as providências necessárias para, aparentemente,
viver em paz. Equiparam
a casa com alarmes com sensores ultramodernos, cercas elétricas nos muros, sem
se esquecer de brindar a BMW usada por Marina. Mesmo assim o estresse era
visível.
A nossa história começa quando
todos se preparavam para um casamento num sábado a noite. Marina chamou sua manicure para prepará-la
para o evento. Após fazer as unhas, devido ao adiantado da hora, Marina
resolvera acompanhar Flora até sua casa. O casamento era às oito horas e,
portanto, ainda tinha algum tempo.
Tranquilamente, Marina
dirigindo sua BMW blindada e tendo ao lado Flora, desce o morro que a levará a
estrada. No caminho, algo lhe chama a atenção:
-Flora, quem são aqueles
homens na estrada?
-Dona Marina, eles estão lhe
pedindo pra parar.
-Nem morta. Podem ser
bandidos.
Ela tentou aumentar a velocidade
do carro, mas os homens, audaciosamente, pularam na frente do veículo. Marina
mal conseguia segurar o carro.
-Está louca- brada um dos
homens, mostrando um distintivo - Polícia! Abra os vidros!
Já recomposta, mas suando
frio, ela aciona o microfone do carro e grita para eles:
-Estou escutando tudo, não
preciso abrir o vidro. Podem falar.
-Somos da Policia Civil e
queremos revistar o carro.
-Revistar o carro? De jeito
nenhum. Só com um mandado judicial.
Ela conhecia as leis. Não ia
cair nessa conversa.
-Moça. Somos da polícia. Olha
nosso distintivo. – diz um dos policiais.
-Qualquer um pode comprar um
“distintivo fajuto”. – ela não ia acreditar nessa piada.
-Senhora, isso é desacato à
autoridade! Abra a janela para conversarmos. Preciso ver a sua carta!– bradou o
policial que iniciou o diálogo.
-Quem me garante que vocês são
mesmo policiais?
-Está vendo aquela viatura lá
em baixo da ladeira? É nossa. Estamos trabalhando.
De fato uma viatura estava no
início do morro...
-Qualquer um rouba carro de
polícia hoje em dia. Até
o Abílio Diniz já caiu nessa e acabou sequestrado. Quem garante que vocês não
são bandidos? – ainda estava desconfiada.
- Se a senhora abrir um
pouquinho o vidro, vai ver melhor nossos distintivos.
O policial com quem conversava
estava ficando nervoso. Marina resolveu obedecer.
-Eu vou abrir um pouquinho o
vidro. Você passe o distintivo pra eu examinar. Eu passo a minha carta.
- O distintivo não sai da
minha mão! Me dá logo a carta!
Agora sim, eles estavam
nervosos. Marina obedeceu. Queria terminar logo com aquilo. Já estava atrasada
para o casamento. O policial revistou o carro atentamente.
- Isso não vai acabar nunca?
Tenho um casamento. – ela não obteve resposta.
Ela estava ficando apavorada. O
policial demorou a lhe devolver a carta.
-Me acompanhe até a delegacia.
O que a senhora nos desacatou. Isso é crime. - disse novamente, o policial.
-Não tive intenção nenhuma.
Vou acompanhá-los, mas no meu carro. Não fiz nada errado. – falou Marina
querendo aparentar tranqüilidade.
Os policiais concordaram. Não
adiantava conversar com ela.
Os carros chegaram ao destino.
O delegado os aguardava.
- Que aconteceu? Qual foi
desta vez? – falou o delegado se dirigindo aos policiais.
- Desacato à autoridade.
Estávamos trabalhando e essa senhora se recusou a cooperar. Pedi pra ela deixar
revistar o carro e ela me falou barbaridades.
Mesmo com medo, Marina
constatou que o delegado parecia “boa praça”. Isso lhe tranqüilizou:
-Eu fiquei com medo. Até o
Abílio Diniz já foi seqüestrado. Por isso tenho carro blindado, pra não correr
perigo.
-Calma... Calma! Vamos
conversar um de cada vez. - disse o delegado- Tome o depoimento de todos. -
disse dirigindo-se ao funcionário que tomava os depoimentos.
Depois, pediu para Marina se
explicar.
- Doutor, esses policiais
pegam uma pobre moça indefesa como eu, e querem que eu pare o carro. Eles não
estavam fardados e eu nem vi a viatura. Como é que eu ia adivinhar?
-Eles estavam atendendo
denúncias do próprio condomínio. Houve assaltos por lá.
- O senhor é um homem
esclarecido, com certeza, não vai dar ouvido a eles. Sou uma pessoa do bem, o
senhor não pode me processar...
-Nem o senhor ela respeita! -
brada o policial - Viu delegado, como ela fala?
-Estou falando direitinho. Não estou ofendendo ninguém. Vocês é que me
trataram como bandida. - retorna Marina.
O policial cego de raiva vai à
direção à Marina, mas o delegado ordena que saiam:
-Depois, eu converso com
vocês. Esperem lá fora.
-Seu delegado. Eu sei que o
senhor é homem de bem. O senhor não vai me prender, vai?- diz Marina, assim que
ficam a sós.
- Por enquanto não, mas pode
assinar esses papéis.
-Agora posso ir? – pergunta ao delegado
que faz um sinal afirmativo com a cabeça.
Marina sai rapidamente.
A semana não foi das melhores.
O marido, o filho, todos estavam contra ela.
Pensou em voltar no distrito, pedir desculpas, mas desistiu. Podia
piorar o caso.
Uma semana depois foi chamada
a depor. O juiz não lhe deu nenhuma chance de se explicar. Foi logo lhe aplicando “uma pena” de algumas
cestas básicas.
No início, Marina ficou
revoltada. Aceitar isso era uma confissão de culpa. Mas, pensando melhor, ela
gostava de ajudar o próximo e cumpriria com o maior prazer. Era feliz, tinha
uma família maravilhosa e poder ajudar era muito gratificante. Enquanto dava as
ordens em casa, pensava “com seus botões”:
“Tudo voltou ao normal! Mas,
no futuro, se algum policial “metido a besta” quiser revistar meu carro, eu não
paro de jeito nenhum. Só paro presa!”.
adorei....posso copiarrrr.Vou adotar a prática, só com mandado judicial!!!!!!
ResponderExcluirAqui você pode tudo. Ainda bem que gostou. Bjs
ExcluirComo sempre muito bom, amo ler...
ResponderExcluirObrigada Marli. Obrigada por me prestigiar. Bjs.
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