domingo, 4 de novembro de 2012

Nas garras da lei


NAS GARRAS DA LEI

                O lugar é paradisíaco. Do alto do morro, as ondas batem nas pedras e voltam para o mar dando a sensação que o paraíso começa ali. Condomínio fechado, prédios arquitetonicamente desenhados para que a vista do mar seja a mais privilegiada possível. Morar ali é para poucos; para os afortunados. Mas, embora o condomínio se gabe da vigilância perfeita, sofrera alguns assaltos nos últimos anos, o que pôs os moradores em alerta.
               Marina era uma destas moradoras. Ela e o marido Oscar eram uns dos mais antigos condôminos do “Paradise Center”. O fato de morar em uma cidade como São Paulo fez com que o casal procurasse o sossego da praia, o que até então tinham conseguido.      
             Mas, a paz tão procurada estava ameaçada.  Marina andava apavorada e junto com o marido tomaram as providências necessárias para, aparentemente, viver em paz. Equiparam a casa com alarmes com sensores ultramodernos, cercas elétricas nos muros, sem se esquecer de brindar a BMW usada por Marina. Mesmo assim o estresse era visível.
             A nossa história começa quando todos se preparavam para um casamento num sábado a noite.  Marina chamou sua manicure para prepará-la para o evento. Após fazer as unhas, devido ao adiantado da hora, Marina resolvera acompanhar Flora até sua casa. O casamento era às oito horas e, portanto, ainda tinha algum tempo.
               Tranquilamente, Marina dirigindo sua BMW blindada e tendo ao lado Flora, desce o morro que a levará a estrada. No caminho, algo lhe chama a atenção:
                -Flora, quem são aqueles homens na estrada?
                -Dona Marina, eles estão lhe pedindo pra parar.
                -Nem morta. Podem ser bandidos.
               Ela tentou aumentar a velocidade do carro, mas os homens, audaciosamente, pularam na frente do veículo. Marina mal conseguia segurar o carro.
                  -Está louca- brada um dos homens, mostrando um distintivo - Polícia! Abra os vidros!
                 Já recomposta, mas suando frio, ela aciona o microfone do carro e grita para eles:
                 -Estou escutando tudo, não preciso abrir o vidro. Podem falar.
                 -Somos da Policia Civil e queremos revistar o carro.
                 -Revistar o carro? De jeito nenhum. Só com um mandado judicial.
                 Ela conhecia as leis. Não ia cair nessa conversa.
                 -Moça. Somos da polícia. Olha nosso distintivo. – diz um dos policiais.
                 -Qualquer um pode comprar um “distintivo fajuto”. – ela não ia acreditar nessa piada.
             -Senhora, isso é desacato à autoridade! Abra a janela para conversarmos. Preciso ver a sua carta!– bradou o policial que iniciou o diálogo.
                  -Quem me garante que vocês são mesmo policiais?
                  -Está vendo aquela viatura lá em baixo da ladeira? É nossa. Estamos trabalhando.
                  De fato uma viatura estava no início do morro...
              -Qualquer um rouba carro de polícia hoje em dia. Até o Abílio Diniz já caiu nessa e acabou sequestrado. Quem garante que vocês não são bandidos? – ainda estava desconfiada.
                 - Se a senhora abrir um pouquinho o vidro, vai ver melhor nossos distintivos.
                  O policial com quem conversava estava ficando nervoso. Marina resolveu obedecer.
                 -Eu vou abrir um pouquinho o vidro. Você passe o distintivo pra eu examinar. Eu passo a minha carta.
                 - O distintivo não sai da minha mão! Me dá logo a carta!
                Agora sim, eles estavam nervosos. Marina obedeceu. Queria terminar logo com aquilo. Já estava atrasada para o casamento. O policial revistou o carro atentamente.
                 - Isso não vai acabar nunca? Tenho um casamento. – ela não obteve resposta.
                  Ela estava ficando apavorada. O policial demorou a lhe devolver a carta.  
              -Me acompanhe até a delegacia. O que a senhora nos desacatou. Isso é crime. - disse novamente, o policial.
                 -Não tive intenção nenhuma. Vou acompanhá-los, mas no meu carro. Não fiz nada errado. – falou Marina querendo aparentar tranqüilidade.
                 Os policiais concordaram. Não adiantava conversar com ela.

                 Os carros chegaram ao destino. O delegado os aguardava.
                 - Que aconteceu? Qual foi desta vez? – falou o delegado se dirigindo aos policiais.
                - Desacato à autoridade. Estávamos trabalhando e essa senhora se recusou a cooperar. Pedi pra ela deixar revistar o carro e ela me falou barbaridades.
                 Mesmo com medo, Marina constatou que o delegado parecia “boa praça”. Isso lhe tranqüilizou:
                -Eu fiquei com medo. Até o Abílio Diniz já foi seqüestrado. Por isso tenho carro blindado, pra não correr perigo.
                 -Calma... Calma! Vamos conversar um de cada vez. - disse o delegado- Tome o depoimento de todos. - disse dirigindo-se ao funcionário que tomava os depoimentos.
                 Depois, pediu para Marina se explicar.
              - Doutor, esses policiais pegam uma pobre moça indefesa como eu, e querem que eu pare o carro. Eles não estavam fardados e eu nem vi a viatura. Como é que eu ia adivinhar?
                -Eles estavam atendendo denúncias do próprio condomínio. Houve assaltos por lá.
               - O senhor é um homem esclarecido, com certeza, não vai dar ouvido a eles. Sou uma pessoa do bem, o senhor não pode me processar...
                 -Nem o senhor ela respeita! - brada o policial - Viu delegado, como ela fala? 
             -Estou falando direitinho. Não estou ofendendo ninguém. Vocês é que me trataram como bandida. - retorna Marina.
                 O policial cego de raiva vai à direção à Marina, mas o delegado ordena que saiam:
                 -Depois, eu converso com vocês. Esperem lá fora.
              -Seu delegado. Eu sei que o senhor é homem de bem. O senhor não vai me prender, vai?- diz Marina, assim que ficam a sós.
                 - Por enquanto não, mas pode assinar esses papéis.
                 -Agora posso ir? – pergunta ao delegado que faz um sinal afirmativo com a cabeça.
                 Marina sai rapidamente.
               
                 A semana não foi das melhores. O marido, o filho, todos estavam contra ela.  Pensou em voltar no distrito, pedir desculpas, mas desistiu. Podia piorar o caso.
               Uma semana depois foi chamada a depor. O juiz não lhe deu nenhuma chance de se explicar.  Foi logo lhe aplicando “uma pena” de algumas cestas básicas.
              No início, Marina ficou revoltada. Aceitar isso era uma confissão de culpa. Mas, pensando melhor, ela gostava de ajudar o próximo e cumpriria com o maior prazer. Era feliz, tinha uma família maravilhosa e poder ajudar era muito gratificante. Enquanto dava as ordens em casa, pensava “com seus botões”:
                 “Tudo voltou ao normal! Mas, no futuro, se algum policial “metido a besta” quiser revistar meu carro, eu não paro de jeito nenhum. Só paro presa!”.

4 comentários:

  1. adorei....posso copiarrrr.Vou adotar a prática, só com mandado judicial!!!!!!

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