domingo, 4 de novembro de 2012

Tô grilado


TÔ GRILADO

            Está bem, sou um grilo intrometido. Mas, como me deram uso da escrita, eu vou escrever sobre um assunto que há muito tempo é veiculado na mídia e na classe estudantil deste País: a desigualdade social. Se todos têm direito a optar porque eu não?
            O ser humano gosta de criar polêmicas e eu, de falar sobre elas. Os nossos deputados e senadores se arrastam em meses e meses discutindo o assunto, criando leis para diminuir a desigualdade social e o problema persiste. Por quê?  Porque o que precisa são leis para dar condições ao pobre (independente de etnia, religião ou opção sexual) de galgar patamares mais altos.  
            Estou aqui na minha biblioteca, lugar que escolhi para morar porque a chave de todo o conhecimento está aqui: nos livros. Muitos livros daqui vêm através de doações de pessoal de maior poder aquisitivo que compraram seus livros e depois de lidos resolveram doá-los a biblioteca, mas a maioria vem de verbas do Governo.
            Há muitas pessoas interessadas no conhecimento e através dele ter uma ascensão social, uma melhoria de emprego, um concurso público, pesquisa para trabalhos escolares e também um grande estão ali por lazer, para ler um determinado livro ou levá-lo para casa. Aqui encontro todo tipo de classe social: estudantes, universitários de todas as etnias, crenças, tribos, etc.  
             Eu sei que muitos preferem os meios de comunicação mais atuais como o computador com as redes de internet e todo o conhecimento imediato e de comunicação que o computador nos proporciona. A globalização precisa deste imediatismo, das respostas rápidas aos anseios das pessoas. Mas, para chegar a esse patamar, elas  precisam do livro e de professores.
            Tudo bem. Tudo perfeito. Eu, um simples grilo, não posso ficar questionando essa ou aquela forma de aquisição de conhecimento. Eu pertenço àquela classe que gosta das redes sociais, gosto de estar “navegando” na internet, mas confesso que para mim, nada substitui o livro. Gosto de romance, de desvendar os crimes, de saborear um bom enredo.  Mas, não é esse meu questionamento.
            Foi analisando esse vai e vem, esse “entra e sai” que pude perceber que para o Brasil se tornar mais igualitário, mais acessível às classes menos privilegiadas, os pobres têm que disputar de igual para igual no concorrente mercado de trabalho.          Pobreza nada tem a ver com competência, desde que haja mecanismos para garantir o conhecimento. Políticas públicas que privilegiem o aluno pobre no acesso às Universidades, mas com competência e responsabilidade, almejando uma disputa igualitária com os mais ricos.
            Isso me faz lembrar o candidato a Presidente Cristovam Buarque, hoje Senador, que dizia: “tudo tem que prioritariamente e necessariamente que passar pela Educação”.  “O Brasil tem que sofrer uma verdadeira Revolução na Educação”.
            Eu concordo com ele. Só assim, com qualidade e acesso ao ensino, o aluno pobre pode ter livre arbítrio na tomada de decisão quanto ao seu futuro.
            Condeno todo tipo de discriminação, mas penso que a mais silenciosa é a gerada pela condição social. E só andar pela cidade que você vai presenciar um número enorme de excluídos. São os excluídos da informatização, dos livros, da vida...  Parecem seres de outros planetas que passam despercebidos do olhar mais intelectual dos demais. Muitos são trabalhadores, ganham mal, comem mal, moram mal. Não tem condições de procurar um melhor emprego por falta de escolaridade, de oportunidade.  Contentam-se com migalhas de conhecimento. O investimento maior tem que ser a eles.
            Eu, o grilo que pensa, estou me metendo onde não sou chamado... Mas, fazer o quê? Já falei... Fui.   

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