COISAS DO DIA A DIA
Eu,
grilo pensante, descobri uma coisa realmente preocupante: os humanos estão
perdendo a capacidade de rir de coisas simples, sem intenção de ofender ou
injuriar alguém. Vejo e escuto piadas de mau gosto, quase sempre com o intuito
de denegrir a imagem de alguém. O sorriso e a risada deixaram de ser expressões
de alegria para se tornarem zombeteiros, sarcásticos. Essa tendência pode ser
percebida em muitos programas humorísticos que perderam a leveza, a
simplicidade do bom humor para se tornarem impróprios e muitas vezes,
repetitivos e inconvenientes. Qualquer BBB vira artista de humor em programas
de TV. Joãozinho, das piadas da escola, já se diplomou no “Pânico na TV” e nos
inúmeros “stand up comedy” que aparecem em concursos humorísticos e não tem
mais a leveza, nem a diplomacia de épocas passadas.
É
claro que como é uma opinião pessoal, de um simples grilo que muito pensa e
pouco faz, mas gosta de dar sua opinião, e que não pretende de maneira nenhuma
ser levado em
consideração. Cada um ouve ou fala o que quer e isto é, antes
de tudo, democrático.
Há
muito tempo deixei de assistir programas humorísticos. Não gosto, não é a
“minha praia”, mas ouço tantas histórias engraçadas que gosto de escrevê-las. É
o dia a dia nos tornando menos rancorosos ou tristes. E dizem que quem ri
muito, não envelhece. Está aí um argumento deveras interessante.
Numa
de minhas andanças, estava tranquilamente sentado no banco de um carro, quando
ouvi duas pessoas conversando: a do lado do motorista, a nora e a do banco de
trás, a sogra:
-
Hoje, choveu a noite toda. – a sogra iniciou o diálogo.
-Não
escutei nada. – respondeu a nora.
-
Hoje, choveu a noite toda. - repetiu a sogra, mais alto.
-
Não escutei nada. – novamente a nora.
A
sogra, ainda mais alto, insistiu:
-
Eu estou dizendo que hoje choveu a noite toda.
-
E eu estou repetindo que não escutei chuva alguma.
Só
então ambas perceberam “aquela diálogo louco”. Da minha parte, fiquei rindo
sozinho, assim como o filho e esposo que estava dirigindo o carro.
Outra
história realmente interessante e, ao mesmo tempo “sem noção”, eu escutei de
uma mãe que relatava histórias sobre a infância dos filhos. A mãe inexperiente,
muito jovem, mas querendo acertar, levou o filho em um ortopedista. Isto se
passou em meados de 1980, época em que todos os médicos ortopedistas receitavam
botas ortopédicas. Parecia que a novidade havia tomado conta dos consultórios
médicos e todas as crianças nascidas nesta época, sabem do que estou falando.
Ela, a bota, era o terror das “canelas” de todas as pessoas que se aproximavam.
Eu,
grilo falante, estava interessado na conversa (ainda bem que ousou colocar bota
ortopédica em grilo). E o “papo” continuou:
A
mãe de Rafael contava a amiga:
-
Você não sabe o que sofri com meu filho quando ele começou usar a bota
ortopédica. O médico receitou a bota e eu, imediatamente, providenciei. Não
queria que meu filho crescesse com a perna torta por minha causa. Coloquei a
bota em seu pé e fomos passear na Bienal de São Paulo.
Explicou
que desde que saiu de casa, Rafael reclamava o tempo todo:
-Mamãe,
ta doendo muito!
-
Não filho, você que não está acostumado. O médico mandou não tirar, senão seu
pé fica torto.
-
Mãe, eu não aguento!
-
Pára de reclamar, Rafa. Você é muito chorão!
E
assim foi. O menino sentava no chão, chorava, esperneava e a mãe fazia de tudo
para não chamar a atenção.
-Fica
quieto, tá todo mundo olhando!
-Quero
ir pra casa, não quero mais bienal.
-Tá
bom. Vamos pra casa. Você é muito mal educado! Lá em casa a gente conversa. -
disse em tom ameaçador.
Não
teve jeito, o remédio foi voltar para casa antes do previsto. Ao chegar a casa, ele não queria mais andar e ela resolveu tirá-la:
–
Rafa, vou tirar sua bota, mas só “um pouquinho”; depois vai colocá-la
novamente.
Rafael
respirou, aliviado. A mãe retirou a bota e para sua surpresa de dentro dela
saiu uma pilha, daquelas pequenas, “tipo palito”, mas que no pé de uma criança
pode causar grande estranho.
A mãe de Rafael concluiu a história, entre
risos e pena da amiga.
-
Coitado do Rafinha! Não merecia. Andou o tempo todo com uma pilha dentro da
bota.
Pois
é, meus amigos, eu, o grilo pensante, também achei muita graça. Como vocês
vêem, embora trágico, o fato não deixa de ser cômico. São estas histórias que
tornam a vida mais interessante. Quando
tiver alguma história interessante, pode me procurar. Fui...
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