“Saudade é o amor que fica”.
Definir saudade é muito difícil,
principalmente se ela vem de alguém que se foi para não mais voltar, mas que
vive em nossas lembranças e faz parte da nossa história, indispensável para
nossa formação, para nossa existência.
Sem minha mãe, sinto-me como a
última haste de uma raiz que foi arrancada do solo e que fica flutuando no
espaço ou como um barco a deriva durante um mar revolto. Sei também que sou
parte da raiz de outra árvore e que tenho frutos que precisam ser regados para
que a espécie não se perca. Essa sensação de perder as raízes que me prende a
minha condição humana, já era sentida desde a ausência de meu pai, seu João, em
agosto de 2012 e aumentou de maneira ímpar com a partida de minha mãe. Somente
o amor da família, a dedicação do marido, o consolo dos amigos, a vontade de querer
controlar a dor dos filhos pela perda da avó, as palavras carinhosas deles e
dos sobrinhos a respeito dela, foram capazes de me segurar no solo, ou como barco
naufragado, conseguir remar de volta a terra, contando, principalmente, com a
ajuda de todos, até porque todos estão no mesmo mar. Mas, dentro do coração,
ainda há silêncio e dor.
Na incapacidade de definir esse
sentimento, o que mais me agradou foi “Saudade é o amor que fica” (*). Portanto, essa definição não é
minha, mas traduz a minha saudade. Ela não é uma sensação de vazio, ao
contrário, é de muito amor. Portanto, é imensurável, Plural e Eterna. É o Amor
que ficou pela partida de ambos.
Retrocedendo em minha memória, encontrei
uma imagem que me parecia perdida no tempo. Minha mãe, chorando, retirando
roupas do varal, quando soube que seu pai, meu avô, tinha falecido. E eu, pequena, não sabendo o que fazer e como
consolar; só me restava chorar junto.
A vida realmente é uma sucessão de
imagens repetitivas em outros contextos. São “flashes” de situações rotineiras
que se repetem ao longo do tempo. Nas lembranças buscadas na memória, nestes
primeiros dias onde a única coisa que exercito é o pensamento, vejo minha mãe,
Dona Lídia como era chamada, sempre às voltas com sacolas repletas de roupas ou
caixas de alimento. Era a sua maneira de ajudar parentes ou alguma instituição.
De certa forma, retribuir o que recebeu durante o início da vida de casada,
quando o dinheiro era curto e as necessidades enormes.
Sua generosidade não tinha limites.
Ela foi generosa até com sua partida, “aos poucos” foi nos dizendo adeus para
que nos acostumássemos e aceitássemos sua ausência.
A sua vida se resumiu em três
pilares que acreditava necessária à vida em família: Amor materno, Amor ao
esposo e Amor a Deus. Não se descuidou de nenhum deles na condução de sua
história.
Hoje, ainda choramos sua partida.
Mas, lá do alto, junto ao seu companheiro, deve estar feliz e olhando pelos
seus filhos. O céu está em festa com sua chegada. Ficamos órfãos, mas repletos
de saudade e exemplos de amor.
Costumo falar que ela é minha “mãe
guerreira” que venceu obstáculos, superou dificuldades e transmitiu o que
acreditava através dos exemplos. Foi assim que tentei retratá-la, quando ainda
morava em Guarujá, em uma poesia para o Dia das Mães. Ivan, poeta e músico que participava dos
saraus (*) a musicou. Infelizmente
não temos registro. Agora, com as
devidas adaptações, volto a colocá-la no blog. É a minha maneira de
homenageá-la.
Adeus “Mãe Guerreira”. Fique com
Deus. Se “saudade é o amor que fica” cheia de amor me despeço. Sua filha.
Leone
A.Vieira
(*) definição
de saudade pelo Dr.Rogério Brandão- médico oncologista.
(*)
saraus que aconteciam mensalmente no Cartório Civil do Guarujá, comandados pelo
Prof. Maurílio.
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