Meu filho, você merece tudo!
Li
e reli o artigo no qual a autora, Eliane Brum, fala sobre a geração de hoje na
classe média e da responsabilidade dos pais diante das dificuldades dos filhos
no enfrentamento das dificuldades quando estas se apresentam.
Em
primeiro lugar, não gostei do título “Meu filho, você não merece nada”, mas em
algumas afirmações concordo com ela, em outras não. Em todo caso é importante
para a reflexão sobre o caminho que queremos desempenhar na vida de nossos
filhos.
Penso
que ser pai, realmente, é querer a felicidade para os filhos. Ele vai estar
sempre em primeiro lugar, mas é claro que o filho deve ser educado sabendo das
dificuldades que poderá encontrar, mas cada um vai reagir de forma diferente
diante delas. Isso tem muito a ver com a personalidade de cada um, com o meio
em que estiver convivendo e com as condições financeiras ou afetivas que
estiver envolvido. Uma árvore tem que ser regada desde pequena, embora muitos
galhos não cresçam em uma única direção e muitos terão de ser cortados ao longo
da vida. É o eterno conflito entre opções e conseqüências.
Não
existe uma receita, uma bula que nos indique como educar o filho, mas existe
sim o exemplo que será sempre melhor que qualquer cartilha ou artigo.
Generalizar, rotular é muito preocupante e chega a ser preconceituoso em
relação à dedicação dos pais em dar o melhor aos filhos. Não sou “expert” no
assunto, mas já estudei e li o bastante para exteriorizar minha opinião. Posso
não ter sido a mãe ideal, pois aprendemos com nossos erros, mas sei que exemplo
e uma educação visando à ética e responsabilidade é um bom começo. Se o filho
for educado com exemplos de esforços, ele saberá que a vida não é fácil. Ele
compreenderá que a vida não é um conto de fadas, mas que pode contar com os
pais em qualquer situação. A procura da felicidade deve nortear sua vida e num
lar feliz, isso será bem mais fácil. Fujo sempre das generalizações.
Às
vezes, os pais pecam pelo excesso de zelo, querem que os filhos tenham a melhor
educação formal, se sacrificam para isto, mas dar a melhor educação formal e
prepará-los para o mundo competitivo não é pecado, desde que isso não lhe custe
a sua própria sobrevivência. A educação formal “melhor” nem sempre é a mais
cara, depende mais do aluno do que da escola ou do professor. O esforço e o
interesse do aluno, muitas vezes, dependem de como os pais vêm essa relação
“educação X escola” dentro de casa. Políticas públicas em Educação visando à
qualidade facilitarão esse entrave e oportunizarão a ascensão profissional.
Os
filhos da classe média, em sua maioria, sabem que a vida não é fácil, viram os
pais se esforçando para lhes dar uma vida melhor do que tiveram, sabem
reconhecer esse esforço, muito mais do que os filhos que nunca tiveram nada ou
os que nunca lhes foi negado nada. No primeiro caso, porque já nascem com
muitas frustrações, matam “um leão a cada dia”, têm que pensar no presente,
muitas vezes sem vislumbrar o futuro e, no segundo caso, porque não tiveram
como modelo o trabalho, sempre lhes foi dado tudo de “mão beijada” porque os
pais desfrutam dessa vida. Muitos pais também têm uma vida onde o dinheiro é o
que compra tudo. Nesses casos, penso ser mais difícil lidar com as
dificuldades, se as regalias lhes forem tiradas. Mesmo assim, há casos e casos...
Como dizia Santo Agostinho “a virtude está no meio termo”.
A
autora afirma que os filhos desta geração “foram ensinados a pensar que
merecem, seja lá o que for que queiram e quando isto não acontece- sentem-se
traídos, revoltam-se com “a injustiça” e boa parte se emburra e desiste”. No meu entender, como a autora está falando
da relação no mercado de trabalho, acho positivo que eles aspirem e pensem que
merecem o melhor, revoltem-se com as injustiças, mas isso só os fará crescer,
progredir. É lógico que se o que aspirarem não for adequado com o seu preparo
profissional, eles se sentirão frustrados, poderão até desistir, mas se tiverem
dos pais apoio e confiança para aquele momento, buscarão novos rumos. Essa
reciprocidade de confiança, às vezes, vêm de pessoas ligadas a eles, nem sempre
dos pais.
Concordo
com a autora da necessidade de ética e honestidade- e não a cotoveladas ou aos
gritos- na condução dos conflitos e que viver é para os insistentes e que para
conseguir um espaço no mundo é preciso “ralar muito”, mas, em minha opinião
“felicidade é um direito”, os pais devem sim tentar, se possível, dar-lhes o
melhor e protegê-los quando for preciso, mas esperando sim “responsabilidade e
reciprocidade”. Isto se aprende com exemplos de responsabilidade e
reciprocidade dentro de casa.
Se
por algum motivo financeiro os pais frustrarem os filhos, isso não deve ser
sinônimo de fracasso pessoal, mas de busca de novas soluções. Muitos filhos
superam os pais na condução de sua vida profissional e aí os papéis se
invertem. São eles que seguram o barco e o transportam para águas mais calmas.
Genialidade e esforço muitas vezes caminham juntos e não são exclusivas das
classes A, B ou C.
O
importante é que a felicidade não esteja centrada somente nos bens materiais,
mas que o esforço seja um quesito para que cheguem lá. Com os avanços
tecnológicos que o mundo dispõe essa geração da classe média, objeto do artigo,
sabe que é complicado viver e que precisa cada vez mais do incentivo e apoio
dos pais ou das pessoas que lhes são caras. Sofrerá frustrações, pensará em
desistir muitas vezes, mas nessa briga sempre os pais serão seus melhores
aliados. Se isso acontecer, não perderá tempo se sentindo injustiçada porque a
batalha está a sua frente.
Mostrar
o mundo do jeito que ele se apresenta hoje, é importante. Os pais não devem
fingir que está tudo bem, mas também é sua função encorajar os filhos a seguir em frente. Na vida
erramos, acertamos, nos frustramos, ganhamos ou perdemos, mas é isso que nos
impele na busca pela felicidade; é isso que nos mantém vivos. Ter a consciência
tranqüila que fizemos o melhor é o bastante.
“Filho,
você merece tudo”, mas esse “tudo” está inteiramente ligado ao que posso lhe
proporcionar sem me anular como pessoa. Serei feliz se você conseguir muito
mais que eu, porque eu o coloquei no mundo, eu o desejei. A mim foi dada a
incumbência de “tentar” fazer o melhor. Se não consegui, não me sinto frustrada
porque a responsabilidade pelos seus atos também é sua.
Como
dizia o Pequeno Príncipe: “Tu és responsável por tudo que cativas”. Sou
responsável por você porque o cativei, mas você também é responsável por suas
escolhas. O importante é que estamos juntos nessa batalha. Viver é uma luta, é
preciso, realmente, muita coragem sem nenhuma garantia, mas a procura da
felicidade ainda é o melhor caminho. Essa felicidade é um direito seu e a busca
é que torna a vida interessante. Seja feliz sempre! (Leone A.Vieira)
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