Mogi das Cruzes
“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”.
“As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.”
Já dizia Gonçalves Dias,
Sobre nosso amado Brasil,
E hoje, plagio seus versos,
Cantando a amada Mogi,
Nossa terra hospitaleira,
Nossa terra do caqui!
Tenho no coração gravado,
Dentro do peito guardado.
O amor que sinto por ti.
Mogi de todas as cruzes,
Mogi de todas as luzes.
Minha amada Mogi.
A história começa assim:
Na floresta, o índio morava,
Dono de tudo que havia,
Rio Tietê, bichos e aves,
Tudo que aqui existia!
Mas o branco aqui chegou,
O colonizador português
E com lábia e sedução,
Conquistou seu coração.
Na figura de Gaspar Vaz,
Bandeirante do além-mar,
Mostrou do que foi capaz.
Com a miscigenação de raças,
Do povo indígena e português,
E do escravo que chegou com o Rei,
Imigrantes de novos mares
Vieram para essas paragens,
Árabe, espanhol, italiano e libanês
Deixaram em Mogi suas marcas,
Na Indústria, no Comércio, na Educação,
Mas foi no campo que o imigrante japonês,
Com hortaliças formou o “verde cinturão”,
O maior polo Agrícola da região.
Se voltarmos na lembrança, na infância,
Vemos casarões históricos de aristocrata beleza,
Com valores
arquitetônicos de real grandeza,
Convivendo em ruas estreitas, praças com ar de interior,
Cadeiras nas calçadas para “um dedo de prosa”,
Risadas gostosas. Tudo exalando amor.
Nem tudo era cor de rosa, nem tudo felicidade,
Mogi sofria com as enchentes que castigavam a cidade.
No Largo da Feira, das feiras-livres, de óleo a granel,
Mantimentos comprados em saquinhos de papel,
Tudo era engolido pelas águas. Águas de Março!
Mas, quando o sol aparecia; que alegria!
Acabavam-se a dor e a mágoa.
Era a vida que renascia!
Na Praça do Carmo, nas tardes domingueiras,
Entre cirandas e brincadeiras, crianças a correr,
O periquito da sorte, o“lambe-lambe” na praça,
O “quebra- queixo”, o “bijueiro”, o pipoqueiro,
“O Beco do Sapo”. Tudo com muita graça!
E a fonte luminosa!
Com seu arco-íris de cores inspirou muitos amores.
E no Jardim da Estação! Tempo bom!
Hoje, aposentados, nos bancos sentados,
Relembram os “flertes” concorridos:
Em fileiras na Deodato num estreito corredor,
Ficavam os jovens pretendidos,
Quem sabe futuros maridos!
Pelo meio, passavam as moçoilas recatadas,
Disputando os olhares, as gracinhas já manjadas, a velha
cantada.
Como testemunha, a noite enluarada.
Nas escolas Cel. Almeida e o Placidina
(das Irmãs Vicentinas), no antigo primário,
O mogiano aprendia as primeiras lições.
No secundário, Getulio Vargas e Washington Luis,
Disputavam além da formação, os jogos estudantis,
E as fanfarras com garra, nos desfiles da cidade,
Causavam emoções em cada acorde das canções.
Os desfiles cívicos lembravam grandes heróis,
E os heróis da terra,
que na Grande Guerra,
Por “mares nunca antes navegados” partiram,
São os Expedicionários Mogianos
Que deixaram seus lares, sua vida, seu legado.
E sempre serão lembrados.
E vieram as Universidades, a população cresceu.
O progresso chegou, Mogi se modernizou.
Mas, não esqueceu as origens, o que viveu.
Do bom povo português herdou a Fé
E a devoção por seu símbolo maior, a Cruz.
Em Mogi, a “Cruz do Século” na Serra do Itapeti,
Protegida por árvores frondosas, cachoeiras majestosas,
Num cenário de vida e luz, a Cruz abençoa a cidade,
Em uma prece, na quietude do silêncio da Oração,
O mogiano agradece a Deus a família, os filhos, os irmãos.
Tudo é paz! Tudo é proteção!
O passado ainda é presente nas Igrejas barrocas.
Pinturas nos tetos onde Anjos e Arcanjos simbolizavam o céu,
Envoltos em nuvens e véus. A Arte Sacra!
E nas antigas missas, músicas Gregorianas,
Cantadas por seminaristas, verdadeiros artistas,
Elevavam a alma do pecador.
E, na Semana Santana, o povo se redimia,
Com confissões, rezas e devoção pedia perdão.
Em procissão, do Carmo à Catedral,
O encontro de Jesus e Maria, quase em tamanho real,
Encantava a multidão,
Que numa vigília de Fé e emoção pedia a Deus,
Paz para a cidade e felicidade aos filhos seus.
.
Mogi celebra, a cada ano, as Festas Rotineiras:
Nossa Srª do Carmo, Santa
Rita, São Benedito,
E na Catedral, Sant’Ana, a Padroeira
E a Fé Maior: A Festa do Divino!
As “ rezadeiras” com seus rosários em procissão,
Une o povo que em romaria pede a Deus proteção.
A quermesse, a Entrada dos Palmitos, a prece.
O povo com seus hinos e as Bandeiras,
Saúdam o Santo Império: Viva o Espírito Santo!
Cubra-nos com seu manto de luz.
Ajuda-nos a carregar nossa cruz.
Tudo é Fé, tudo é tradição!
Mas a Fé cristã também divide espaço,
Com outras Igrejas e religiões,
Nos jogos de capoeira, nos terreiros de candomblés,
Tendas, Centros Espíritas, numa demonstração de Fé.
Multiplicam-se, a cada dia, no centro e na periferia.
Templos, mesquitas e Igrejas comungam do mesmo Bem.
Em um coro alegre de “Amém”.
É o mogiano que encontra na diversidade, a Divindade.
Que nasce na demonstração de fé verdadeira.
É a religiosidade de cada um, a sua verdade,
Unindo o céu e a terra num só coração,
No agradecimento, nos pedidos, na oração.
Cada povo tem tatuado, dentro do peito guardado,
A terra que os abrigou e o acolheu.
Aqui ficaram as raízes de tudo que se viveu.
Em Mogi há um ditado, muito citado,
Que quem toma “água da bica, um dia há de voltar”,
Acredito nestes versos e sempre volto aqui
Rever parentes, meus amigos, o que vivi,
Nesta terra abençoada, minha terra do caqui,
Encontro o caminho certo que um dia percorri.
Olhando este céu estrelado, que há muito eu não via.
Viva o Universo de luzes. Viva Mogi das Cruzes!
E, de novo, no plágio dos versos, saúdo Gonçalves Dias,
“Em cismar sozinho a noite, mais prazer encontro lá,
Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá” .
Leone A.Vieira
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