domingo, 25 de novembro de 2012

Liberdade...


LIBERDADE...

Liberdade existe ou é só utopia? André sempre questionou essa pergunta. Quando criança, queria ser livre para correr, pisar na grama, rolar barranco, voltar para casa sujo de lama. Não podia. A mãe não permitia e se teimasse era com o pai o acerto de contas. E que acerto... A cinta, estrategicamente pendurada no "hall" de entrada da casa, assustava. E diziam que era para sua educação!  Naqueles dias, sentia raiva dos pais, mas bastava um carinho para esquecer seus planos de vingança. Quantas vezes, ele pensou em sair de casa, mas o medo do escuro, do desconhecido e de ficar longe da mãe o fazia mudar de ideia.
 Thiago, amigo inseparável de André, fora criado solto brincando nas ruas do bairro. O campinho de futebol era o espaço que o fazia feliz. Consolava o amigo nos seus infortúnios e convencia os pais dele a liberá-lo para a “pelada” nos fins de tarde.
Assim, a infância de ambos transcorreu tranquila: um sempre ao lado do outro. É certo que André desenvolveu um sentimento de vítima e tudo parecia mais negro do que realmente era.  Esse sentimento o afastava dos amigos mais próximos. Thiago era o único que não o abandonava. 
A primeira vez que André tomou conhecimento da palavra “Liberdade” foi na escola em uma aula de História. A professora falou do quanto que os negros sofriam com as torturas e pelos sonhos de liberdade presos na garganta. André se viu um deles, ele também recebia a cinta como castigo. Naquela noite, André rezou pela princesa Isabel, a Redentora, e desejou que ela também lhe trouxesse a liberdade sonhada pelos negros. Na sua visão de menino, a sua casa era a senzala, a cinta suas algemas.  A partir daquela data, aguentou qualquer castigo heroicamente, sem choro.
André foi crescendo e a cinta foi aposentada. Era hora de agradecer à Princesa Isabel pela libertação. Os grilhões tinham desaparecidos. Fora atendido em suas súplicas.
O tempo passou e André se tornou um adolescente que despertava o olhar de admiração das meninas da escola; a todas desprezava. Mas, quando Patrícia apareceu, suas pretensões foram “pelos ares”. Sentia-se nas nuvens ao pensar na amada, mas jamais admitiu a atração mais forte. Thiago também se interessou por Patrícia e, para desespero de André, ela correspondia. Decidiu que Thiago jamais saberia de seus sentimentos e até encorajou-o a namorá-la. Sofreu em silêncio e “curtiu sua fossa”, sozinho. Aos poucos, afastou-se do amigo.   
O tempo passou e a ideia de ser totalmente livre, não lhe saia da cabeça. Tornou-se um profissional responsável, bem sucedido, que despertava admiração das mulheres. Comprou um apartamento e deixou a casa dos pais. Não sentiu remorsos nem saudades, as lembranças da infância estavam vivas em sua memória. Profissionalmente, viajou para o mundo todo, mas sentimentalmente não queria amarras, nada de vínculos sólidos. Finalmente, era livre!
O tempo foi passando, as rugas aparecendo e a indesejada aposentadoria surgiu como única alternativa ao corpo cansado. Foi morar no campo, respirar ar puro e viver sua liberdade. Foi nesse sossego bucólico que as imagens de Thiago e Patrícia voltaram às suas lembranças. Nunca mais tivera um contato com Thiago, soube por conhecidos que ele e Patrícia se casaram, tiveram dois filhos, mas André questionava que fossem felizes. Para ele, a felicidade estava ligada a liberdade e preso às algemas do casamento, Thiago nunca seria livre.
 Aposentado, sem herdeiros e sem dívidas, André se considerava uma pessoa feliz e livre. Por que, então, o passado o incomodava? Os nomes Patrícia e Thiago rondavam seus dias e isso o angustiava. Havia um vazio em seu coração, algo não resolvido pelo tempo.
Enquanto caminhava pelos campos, percebeu que o outono chegara. A paisagem estava perdendo o viço. Assim também se sentia: irremediavelmente só. Percebeu-se solitário, infeliz e preso ao passado. Saudades de Patrícia! Era preciso voltar onde ficou a sua felicidade e lutar pelo seu amor. Seu coração batia acelerado na possibilidade de encontrá-la. Era preciso retornar.
Foi ela quem abriu a porta da casa. André se emudeceu. Aquela mulher não era a Patrícia de seus sonhos. Custou para encontrar no rosto dela, os traços que tanto amara no passado. A sua Patrícia tinha o viço da primavera e não o cheiro do outono. Ele estava apaixonado pela lembrança do passado e de certa forma decepcionado. Percebeu, finalmente, que aquela era a Patrícia de Thiago, não a que ele amava. Não conseguiu falar e ela sorrindo chamou o marido:
- Thiago... Thiago. Veja quem chegou! É André, nosso amigo de infância.
Thiago veio ao seu encontro e André notou o olhar de Patrícia se iluminar ao beijar o marido, o mesmo brilho refletido estava nos olhos de Thiago. André sentiu que ali havia felicidade. Foi despertado pelo abraço do amigo:
-André, por onde andou? Sentimos sua falta esses anos todos.
Thiago estava mais velho e com as têmporas brancas, mas conservava no olhar a inquietude dos anos de adolescência. E estava imensamente feliz!
A tarde passou rápida e era madrugada quando deixou a casa. Ele sentia frio. Coisas do inverno! Mas, pela primeira vez, depois de um longo período, encontrara suas respostas. Aquele encontro mudara sua vida, sua história. Ainda havia tempo para ser feliz e acreditar no amor. O passado estava morto. A primavera surgia finalmente! 

Ah! Esqueci...


Ah! Esqueci...

            Nesta minha curta vida de grilo, cheguei à conclusão que quanto mais analiso as pessoas, mais me convenço que o bom mesmo é procurar o melhor de tudo, achar graça das pequenas coisas, isto faz a vida valer à pena. Por isso procuro sempre o lado bom de tudo, aquele que faz a diferença como, por exemplo, levar “numa boa” a passagem do tempo.
            Penso que para os humanos a data base para uma vida saudável seja cinquenta anos e a partir daí tudo vai ficando “menos”: menos memória, menos paciência, menos cálcio, menos elasticidade e assim vai. É claro que cada “menos” é sempre seguido de um “mais”: mais esquecimento, mais intransigência, mais descalcificação, mais rigidez, etc. Isto tudo é uma brincadeira, pois sempre há um remedinho para curar todos os males, se você lembrar-se de tomá-lo.
            Ah! Esqueci... A memória dos humanos é um capitulo a parte que merece a minha atenção
            Já vi pessoas esquecerem filho na escola, carro na rua ou no estacionamento e só lembrar o fato já na porta de casa e sei até de uma pessoa que chegou ao cúmulo de esquecer a mãe na porta de consultório médico. Pasmem, é isso mesmo: A filha foi pegar o carro em outra rua e esqueceu-se de voltar ao consultório pegar a mãe. Ainda bem que a senhora ficou pacientemente esperando a filha voltar. 
            Isso não é falta de amor, de consideração ou qualquer outra coisa. Simplesmente é o estresse da vida moderna. A pessoa faz muita coisa ao mesmo tempo, principalmente mulheres, e perdem o foco do que estão fazendo no momento. Um dia muda-se a rotina e os esquecimentos aparecem.
            Em maior número, mas penso que em menor gravidade, estão os esquecimentos de chave, de carteira, de bolsa, etc. Isso quando a chave não é perdida na própria bolsa das mulheres, o que se torna humanamente impossível de ser encontrada. Ou ainda, quando alguém procura determinado objeto e os seus olhos , “menos atentos”, não vêem o “dito cujo” exatamente no lugar onde foi deixado. Há também os esquecimentos de datas de aniversários, de consultas médicas, etc., mas nisso os homens são os campeões, principalmente, as datas dos aniversários de casamento.   
            Não quero fazer disto uma guerra dos sexos, mas a história que presenciei está muito dentro deste contexto de mais idade X menos memória:
            A violência no litoral, nas épocas de temporadas, está cada vez mais difícil. Sair na rua portando corrente de ouro, relógio ou bijuterias que se assemelhem a ouro ou prata está perigoso. Quem freqüenta o litoral sabe disso.
            Estou sempre no litoral. Adoro as praias, o sol e o mar. Em uma de minhas andanças pela Associação de Amigos presenciei a conversa de duas amigas que chamarei de Vanessa e Isadora.
            Vanessa tem uma casa maravilhosa na praia e frequentemente reúne os amigos para um churrasco, cerveja e samba. Naquele dia todos estavam reunidos na Associação, mas a convite da amiga Vanessa, Isadora foi até sua casa. Deixou sua bolsa com o marido para não ficar carregando o tempo todo, não se esquecendo de levar o celular. Ela não era nada sem o celular: precisava dele para conversar com as filhas, acessar a internet, postar no face, etc.   O celular era seu bem mais precioso. Podiam roubar tudo, mas o celular não... Ela estava se sentindo desconfortável com o celular nas mãos sem sua bolsa. A amiga percebendo sua aflição deu-lhe uma sugestão:
            -Isadora, porque você não coloca o celular na parte de cima do biquíni, no sutiã. Ninguém vai roubar. O meu fica sempre guardado junto ao peito, quero ver quem tira.  
            -Será? Eu não estou acostumada. Mas, não deixa de ser uma boa idéia.
            Sugestão aceita, o celular encontrou um lugar para ficar. Ficaram conversando, tomando cerveja e depois de algum tempo resolveram voltar para a Associação e almoçarem com os maridos; estes já deviam estar impacientes.
            Assim que chegaram, o celular tocou e Isadora, imediatamente, correu até sua bolsa e pôs-se a procurá-lo. Nada... Abriu a bolsa e jogou tudo o que havia dentro na mesa do restaurante sob o olhar atônito do marido. Nada... Começou a desesperar.
            O celular tocou novamente. A música do ambiente estava alta e ninguém sabia direito de onde vinha o chamado e todo mundo começou a procurar o celular de Isadora. Esta já culpava o marido:
            -Você fica bebendo e não toma conta direito da minha bolsa. Alguém tirou daqui. 
            Isadora se sentiu a menor das criaturas. Havia perdido o celular, justo ele que era tão imprescindível. Como passar um fim de semana todinho sem ele.
            Vanessa estava dentro da Associação e não presenciara o ocorrido e quando chegou encontrou a amiga desesperada:
            -Meu celular sumiu. A culpa é do Mauro que não tomou conta de minha bolsa.
            A amiga começou a rir:
            -Isadora, você é louca. Você guardou o celular no biquíni.
            - É mesmo... Ah! Esqueci.
            Isadora nem teve coragem de olhar para o marido, este já tão acostumado com o destempero da esposa achou melhor não reclamar.
            Eu, grilo pensante, sei que isto é um fato corriqueiro e que acontece a toda hora. As mulheres estão sempre pedindo a São Longuinho para localizar alguma coisa perdida e por isso quando as vir dando três pulinhos, não se preocupem é para pagar a promessa ao Santo das coisas esquecidas. Na Igreja de São Longuinho, a única que tem a imagem deste Santo e que fica em Guararema, há sempre fiéis pedindo sua proteção.
            Fica aqui o meu recado. Se for para o litoral não é aconselhável andar com jóias na praia. Celular também é perigoso, o melhor é não deixar muito a mostra. Agora, se escondê-lo no biquíni, na meia ou na cueca, por favor, não vá esquecê-lo lá, principalmente se estiver no “vibra call”! Fui!

Amor em quatro estações


AMOR EM QUATRO ESTAÇÕES

Levantei-me com a primavera batendo em minha porta.
Um arco-íris de cores e o perfume da felicidade.
Os dias eram festas, as noites prolongadas.
Era a primavera! A estação mais bela.

E eu, criança adolescente,
Na certeza que tudo era eterno,
Sorvia cada momento devagar, sem liberdade.
Inebriava-me com palavras doces, sem maldade.
Estava me despertando para o amor.
Como o desabrochar de uma flor.

Mas, um dia, a minha primavera se despediu,
Meu amor infantil se esvaiu.
Tudo era dissabor como o fim de um grande amor.

O verão surgiu pungente,
E o meu coração, eterno adolescente,
Procurou no sol, na poesia, o amor de verão
E viveu a ilusão, o imaginário, a fantasia.

O verão trouxe o sol, o rigor da juventude,
A expectativa de amanhã.
Nada mais abalaria minha história,
Tinha chegado minha hora.
Entreguei-me de alma, com pudor.
Era somente o despertar do amor.

Tudo era alegria, quimera,
Era um verão com gosto de primavera.

Mas, um dia, esse amor também partiu,
O amor de verão foi de curta duração.
Por que partiu? Ninguém soube; ninguém viu.
Mas não deixou tristeza no meu coração

Amor primavera, amor verão,
Coisas do coração!

O outono chegou
E, novamente o amor apareceu
Agora com o viço da maturidade
A ventania e a leve brisa saudaram o novo dia,
E um quê de ternura e nostalgia
As noites enluaradas e frescor das madrugadas
Inebriaram o meu coração de alegria.
E o amor apareceu sem a ingenuidade da criança,
sem a urgência adolescente,
Mas com a verdade do amor verdadeiro.

E, naquele momento, tudo ficou mais claro,
Fácil de ver a primavera e o verão,
No outono, acontecer.
Pois o amor, a seiva da vida, estava plantado,
Cultivado no limiar do tempo, no encantamento.
E assim resistiu ao tempo, ao balançar do vento.
Sem dissabores ou ressentimentos.

Tudo foi alegria, quimera,
Como um dia de primavera.

O inverno será bem vindo, o ontem foi lindo,
E, mesmo com o frio e o orvalho da noite, serei feliz
Aquecendo o meu coração terno,
                                             Nesses dias de inverno.  

Assim, percebi que os ciclos da vida vêm e vão
Retornando sempre ao ponto de partida: ao coração

Tudo será sempre alegria, quimera
No inverno com gosto de primavera.






quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Virado pra lua.


“Virado pra lua”

Sou supersticioso sim; convicto! Levanto com o pé direito, não passo embaixo de uma escada e acredito em mau olhado. Tenho um trevo de quatro folhas na carteira e um galhinho de arruda atrás da orelha. No reveillon, como lentilha e romã, me visto de branco e pulo sete ondas, peço a proteção dos orixás e não me esqueço das flores de Iemanjá. Fico nervoso quando um gato preto atravessa o meu caminho e outras crendices tantas que a minha mente possa absorver.
Imaginem então como fiquei quando, nas compras de Natal, na Rua Vinte e Cinco de Março em São Paulo, (lugar de comércio gigantesco que recebe milhões de pessoas passando apressadas e com um barulho ensurdecedor de lojistas gritando as promoções do dia) fui abordado por um estranho sujeito barbudo, com cabelos compridos e vestindo túnica encardida e com um cajado na mão que dizia aos berros:
- O mundo vai acabar na passagem do ano. Se arrependam!
Levei um susto quando vi aquela aparição. Instintivamente, puxei a mão. 
- Sai pra lá.  – falei sem pensar.
Empurrei-o sem pretender derrubá-lo, mas isto fez com que ele perdesse o equilíbrio e caísse na minha frente. O profeta me lançou um olhar raivoso e me disse aos berros:
- O mundo vai acabar e você não será poupado!
Senti minhas pernas bambas, pois acreditei piamente em suas palavras. Fui para o hotel onde me hospedara, tomei um banho frio e um comprimido para aliviar minha cabeça. Dormi, mas a imagem do profeta teimava em aparecer em meu sonho, ou pesadelo: a sua túnica encardida, seu cajado e sua profecia. Era minha sentença de morte! Muitos se salvariam, mas eu não estaria entre eles.
Acordei horas depois e parecia que estava com uma ressaca monstruosa. Só podia ser praga do profeta. Será que tudo não havia passado de um sonho?
Resolvi voltar ao calçadão e tirar a limpo aquele mistério; procurar o profeta e olhar firme em seus olhos. Ele estava lá. Eu o vi circulando entre as pessoas, segurando em suas mãos o cajado e berrando:
- Se arrependam! O mundo vai acabar! Somente os justos sobreviverão!
Não tive coragem de me aproximar, pois estava marcado para morrer, mas não estava preparado. Eu era muito jovem, tinha o mundo pela frente. Era sócio de uma empresa que passava por dificuldades, mas eu lutava bravamente para sair do vermelho. Meu sócio queria comprar a minha parte na sociedade e por isso não me ajudava em nada. Mas, agora, nada mais fazia sentido: a minha luta para salvar a empresa, a minha vontade de progredir, conhecer pessoas novas, constituir família... O que fazer nestes últimos dias de existência?
O jeito era vender minha parte na empresa e viver os últimos dias que me restavam. Liguei para meu sócio:
- Se você ainda quer comprar a minha parte, eu lhe vendo. Estou precisando, urgentemente, de dinheiro. Pode estipular um preço e vamos fazer negócio. Mas preciso do dinheiro já.
- É claro que estou interessado. Mas, o que aconteceu? Ainda não fechou o ano...  –falou meio incrédulo, mas estava contente com a notícia.
- Estou com problemas de saúde. Preciso me tratar.
Vocês não imaginam a cara de satisfação dele quando fui assinar a documentação e pegar o dinheiro.  Levei do escritório apenas meus objetos pessoais: o vaso com sete plantas, um vaso de pimentinha e algumas fotos. Retirei o sal grosso que deixava atrás da porta, acendi incenso como meu último ato.
Decidi não pagar contas naquele mês, inclusive o plano de saúde, pois com a morte me batendo à porta, seria um dinheiro jogado fora. As contas da empresa para o pagamento de funcionário, décimo terceiro e outras mais ficariam para meu sócio, dentro do nosso acordo de divisão dos lucros.
Com dinheiro nas mãos, minha primeira decisão foi trocar meu carro por um novo. Finalmente, o carro de meus sonhos. Claro que pagaria somente a entrada; morto não paga mensalidades.  
- Por favor, gostaria de trocar de carro. - disse ao gerente da concessionária.
- Em que modelo está pensando?    
-Uma Mercedes. Aquela azul metálica. É a cor da sorte.
- Muito bom. Vou fazer um precinho bem camarada. A vista ou financiado?
- Financiado.
- A entrada ficará um pouco salgada.
- Não tem importância.
Sai da concessionária de carro novo e seis anos de prestações. Em caso de inadimplência, o carro seria devolvido à loja, sem prejuízo a ninguém. Isso se houvesse loja... Arranquei-me com o carro e me senti dono do mundo.
-A vida é boa, quando se tem dinheiro e tempo para gastá-lo. –gritei.
Eu precisava muito de dinheiro, pois sabia que não sobreviveria ao juizo final. O jeito era aproveitar o tempo que me restava. Resolvi vender meu apartamento e morar de aluguel. Visitei algumas imobiliárias e, em menos de uma semana, meu apartamento estava vendido. Confesso que perdi dinheiro no negócio, mas não podia esperar.  Aluguei um flat para morar.
 -Vou viver como um nababo. Ninguém me segura. -disse feliz.
 Na ânsia de viver intensamente, quase não dormia. Eu ia ter tempo para dormir depois de minha morte “ETERNAMENTE”. Assim, passaram-se os dias. O calendário me alertou que faltavam apenas dois dias para o meu fim. Resolvi procurar o profeta e implorar pela minha vida.
Voltei a São Paulo, para o calçadão da Vinte e Cinco de Março. O profeta estava lá, parecia mais sujo e nada agradável:
-Moço, moço, eu preciso falar com você. –gritei assim que o vi.
Ele se assustou com os meus gritos e correu na direção da rua. Não viu o carro que atravessava a avenida. Eu corri para salvá-lo, pois ele não podia morrer sem desfazer o que me disse. Agarrei-o e rolamos no asfalto. O carro nem parou. Graças a Deus, saímos ilesos.
Por alguns instantes duvidei que eu estivesse vivo. Alguém me chamou:
-Moço, você é um herói. Salvou o profeta.
-Você vai viver muitos anos e será muito rico e feliz. – disse o profeta agradecido.
A multidão me aplaudiu e ele aproveitou a confusão para desaparecer do local.
Eu não me sentia um herói, mas muito feliz por salvar o profeta e porque, de certa forma, salvei minha vida. Sentia-me como um adolescente que ganhou um presente. Eu salvei a mim mesmo.
O reveillon do ano 2000 chegou. Como de costume, desci a serra em direção ao litoral. Fiquei hospedado em um hotel de luxo e não me importei com o preço. Estava diante de uma realidade: o Fim dos Tempos. Os fogos ofuscavam o brilho das estrelas e eu olhando para todo aquele espetáculo!  Fiquei apreensivo, pois a chuva de fogos pareciam estrelas cadentes que derretiam a terra, mas nada aconteceu. Acho que o profeta ficara tão agradecido por eu ter salvado sua vida que conseguiu mudar a data do Fim do Mundo!
Feliz, pulei as sete ondas, comi lentilhas, distribui e recebi mensagens de um ano maravilhoso e não me esqueci das flores de Iemanjá.
No dia seguinte, veio a ressaca costumeira e a nova realidade bateu a minha porta. Como saldar minhas dívidas, agora que continuaria vivo?
O jeito foi vender o carro e passar a dívida. Precisava procurar novo emprego e a pé, mas como engordei muito nestes últimos dias, será um bom exercício. Também corro o risco de ficar sem luz ou água, mas estou feliz, pois tenho a garantia profética que não morrerei e serei rico.
Sei que o futuro da humanidade a Deus pertence! Quanto ao meu futuro, espero que seja grandioso, mas não custa ficar atento e fazer o que estiver ao meu alcance para que isso aconteça. Ouso dizer que “nasci com o bumbum virado pra lua” por haver salvo um profeta que mudou o meu destino.
Ah! Esqueci de dizer meu nome: Benvindo Fortuna, as suas ordens!

A vitória do barril!


A VITÓRIA DO BARRIL

Eu, grilo pensante, já andei por todos os cantos onde as minhas pequenas pernas podem alcançar. Peguei caronas em tudo que foi meio de transporte, pois confesso que adoro viajar.  Andar pelo interior de São Paulo é vislumbrar um novo Brasil, feito de gente simples e hospitaleira. É conhecer os recantos esquecidos, perdidos na história de um povo onde a cobiça e a ganância ainda não corromperam a alma singela, o linguajar diferenciado e a vida sem muitas perspectivas. São lugares com poucos jovens; estes procuram nas cidades grandes, melhores condições de vida, mas, para os antigos habitantes é onde reside a verdadeira felicidade.
Foi aí que conheci o Didi, um professor e teatrólogo que tem na pacata cidadezinha chamada Natividade um refúgio, uma aconchegante casa de campo, com lindos jardins, forno e fogão à lenha, deliciosas espreguiçadeiras, e sempre uma boa musica, para escapar do agito da cidade grande. É ali que ele reúne amigos que vêm de diferentes cidades, pelo menos duas vezes por ano, confraternizando e sedimentando laços de amizade que nem a distância consegue apagar. São casais que se conhecem há muito tempo e nutrem entre si sentimentos de respeito e fraternidade. São os amigos do peito; amigos do coração.
A história que vou contar é verdadeira. Aconteceu nessa cidadezinha, na casa do amigo Didi. Seu amigo Betão fazia aniversário e como estava estudando para Concurso Público, não queria festa naquele ano. Betão é muito festeiro e como tem muitos amigos, adora reuni-los para “uma boa prosa” regada a música, churrasco e cervejas. Mas, aquele ano seria diferente, ele ia fazer um retiro para estudos, por isso aceitou o convite do amigo para passar uns dias em sua casa de campo.
 Didi não se conformava com esse retiro de jeito nenhum. Afinal, era o dia do aniversário do Betão, que é um irmão para ele. Por conta própria, resolveu chamar os amigos mais chegados, mas que não eram poucos. Encomendou um barril de chopes e pediu a outro casal de amigos para fazer uma peixada. Tudo feito “em surdina”, sem a permissão do Betão.
Quando a noite chegou, o Betão chegou com a esposa e os livros. Refugiou-se em seu quarto, que fica em uma edícula, longe da casa principal, e disse que não queria ser incomodado; o que foi bom porque possibilitou o andamento da festa.
 No dia seguinte, os convidados foram chegando e o retiro do Betão foi ficando para trás. No início, ele não gostou, mas logo estava deixando os livros de lado e partindo para os abraços. 
A peixada ficou uma delícia e o número de convidados só aumentava. O interessante é que o chope não acabava, pois muitos trouxeram cervejas, vinhos... O almoço virou também jantar: uns saiam para cochilar, outros se levantavam pra comer, e assim foi até o final do dia. Não se sabe o que acontecia com o danado do barril; o chope não acabava. O pessoal já estava ficando bêbado ou “alcoolicamente satisfeito”, se preferirem, e nada do barril acabar.
O Joca, compadre do Betão, é um sujeito muito querido por todos e amigo do peito e de cerveja. Não troca a cerveja por nada. Não há festa que ele não saia carregado, mas, neste dia, ele estava nervoso:
- “Cumpadre”- dizia ao amigo- o chope não acaba. Não sei o que está acontecendo, não consigo terminar com o barril.
- É “cumpadre”, você não é mais o mesmo. Foi-se o tempo que você era bom nisso, acabava com tudo que é barril.
A festa já estava acabando e os últimos sobreviventes foram dormir.
-Cadê o Joca? –perguntou o Didi
-Ele foi amparado pro quarto pela patroa dele, completamente “Trebado”. - disse o Betão.
 Eu, o grilo pensante, assistia a tudo inconformado. Como é possível os humanos beberem tanto. Tudo é motivo para beber. Se soubessem o quanto ficam engraçados e até ridículos bêbados, quem sabe se comportassem melhor. É por isso que não bebo. Mas, cada um na sua e, neste caso, é perdoável, pois o motivo da festa era a amizade de cada um pelo Betão.
Mas, o dia seguinte era domingo e prometia. O ritual da casa é sempre o mesmo: depois de um café da manhã “de primeira”, daqueles cinco estrelas e que não fica devendo nada para os melhores hotéis do Brasil, tem a tradicional caminhada até a represa e, nesse dia, não foi diferente, mas o Joca estava inquieto: 
-Betão, o que o povo vai falar?  Vamos ficar desmoralizados. Não conseguimos terminar com um barril de chope. Isso é uma tragédia!
O Betão não queria beber naquele dia, pois ia dirigir na volta pra casa, aliás, ninguém queria beber mais nada:
-Deixa compadre. O Didi devolve o barril assim...
Inconformado, o Joca resolveu terminar sozinho com o barril, pois a mulher podia trazer o carro na volta. Quando ele bebe demais em alguma festa, é ela que dirige na volta. Na verdade, ela vive dirigindo para ele. Mas aquele dia era especial, era a sua honra que estava em jogo. Joca voltou da caminhada disposto a terminar com o barril.
 Após o almoço, todos foram embora. Só permaneceram a família do Joca e a do Didi, que ficou ajeitando as coisas. E eu ali olhando... O Joca bebeu desde a volta da caminhada e durante todo o almoço, mas o barril resistia.
 Ficamos no rancho, apenas o Didi e eu e, por isso, fomos testemunhas oculares do que aconteceu. O Didi estava entretido com a arrumação de algumas pendências e eu, grilo pensante, já tirava a minha sesta, quando um barulho chamou nossa atenção.
Foi então que vimos o Joca, abraçado ao barril, totalmente embriagado discutindo com o barril! O monólogo era surpreendente:
- Agora, meu chapa, “somos só nóis dois” e vamos ver quem é que manda. Ou acabo com você ou você acaba comigo.
A cena era absurda, digna das melhores comédias. O Didi se “rachava” de rir.
Querem saber quem ganhou? Adivinhem. Pois é..., foi o glorioso barril. Acabado, desmoralizado, o Joca foi conduzido ao veículo e seguiu viagem para a sua residência, com a sua mulher ao volante, também rindo muito. Ao Didi restou devolver o vitorioso barril ainda com chope.
Os humanos realmente são pessoas extraordinárias. Aprendo sempre com eles e desse encontro aprendi que amizade “não tem preço”. Os verdadeiros amigos estão sempre prontos a nos proporcionar momentos inesquecíveis. Até a próxima. Fui!


Acorrentado


Acorrentado
Rompi amarras, transpus barreiras,
Soltei o grito preso na garganta,
Explodi na alma!

Libertei meu ser das angústias e dos medos,
Exigi meus direitos e clamei por liberdade,
Mas me esqueci que estava preso a outras garras,
E meu grito de desespero não ecoou.
Exausto, cai em pranto
E você, com seu abraço, me abrigou.

Fechei os olhos e senti a brisa do mar tocar meu rosto
E a paz interior inebriou meu ser.
Meus pensamentos correram soltos a universos desconhecidos:
Imagens inatingíveis, redemoinhos de encantamento e euforia.

Inebriei-me da sensação Divina que brotou no peito,
Da alegria de amar e transmitir amor
E a felicidade interna me humanizou.
Você me acalmou!

Venci barreiras da mesquinhez e preconceito
E me dei em doação, irmandade e renúncia.
Percebi que a liberdade tão almejada
Era sinônimo de felicidade. Quase uma utopia!
Procurei-a em mim, no âmago de meu ser
E me descobri feliz. Renascido. Fraterno.

Chorei de alegria, senti-me liberto,
Pois o amor que nos uniu me libertou.


Ele existe!


ELE EXISTE!

Olhe para o céu. Veja o infinito nas noites estreladas
E constate: Deus existe!
Quem poderia fazer o firmamento, tão perfeito,
Sem defeitos, onde luzes pequeninas bailam silenciosas?
Quem poderia nos ofertar numa manhã radiosa,
O Sol em tons de mel que nos aquece e nos convida a dizer “bom dia?”.
Quem presentearia os enamorados com a Lua, só deles,
Projetando sonhos e inspirando os poetas? Só Deus.

Ele fez todas essas maravilhas,
Fez a Via Láctea, o caminho das estrelas
E, com realeza, povoou o Universo de planetas,
De astros, satélites e cometas.
No Planeta Terra, no planeta azul, fez o homem nascer.
E não satisfeito, aqui, Seu Filho nasceu,
Morreu e ressuscitou
Porque muito nos amou.

Contemplando toda essa obra bendita,
A luz do Sol, a luz do luar.
O céu estrelado e a imensidão do mar.
O infinito que como um manto azul serve de fundo
Para esse espetáculo do mundo,
Vendo tudo que aqui habita!
Os olhos do homem crédulo se voltam para o infinito
Onde luzes cintilantes povoam o firmamento,
E, por um momento, o mundo parece livre de todo mal,
Protegido por seu Deus; aquele que é imortal!

Essa força, essa magia que contagia,
É mais uma prova de amor
Que Deus existe.
Bendito seja o Criador!

domingo, 11 de novembro de 2012

Mulata arretada


“Mulata Arretada”

Ela, corpo escultural, gingado de “parar o comércio”, lembrava em muito as mulatas das escolas de samba. Viera do Nordeste, mais precisamente de Maceió, para a praia da Enseada, no Guarujá, litoral de São Paulo. Guarujá lhe lembrava a terra que deixara pela falta de oportunidade. Nunca perdera o bom humor, o sol e as areias da praia.
Rosemary, esse era seu nome, pronunciado por ela com sotaque americano. Afinal, ela era “chique no urtimo” como gostava de brincar. Não queria ser chamada de Rose. Rose não tinha o mesmo “glamour” de Rosemary.  
Conseguira um emprego de garçonete em um quiosque a beira-mar e um quartinho na favela próxima. Adorava o carnaval e ficava em êxtase toda vez que assistia pela televisão ao espetáculo. O Rio de Janeiro era seu objetivo, o carnaval era o seu sonho... Um dia, chegaria lá.  Tornar-se-ia a rainha de bateria da Beija- Flor, a sua escola do coração, embora soubesse de cor todos os sambas enredos das escolas famosas: Portela, Mangueira...
E, cheia de sonhos, Rosemary transitava entre as cadeiras na praia, sorrindo sempre e com o rebolado de “parar o trânsito”. Os fregueses gostavam dela e as gorjetas sempre eram generosas. Na temporada, sempre havia uma roda de samba e mesmo servindo as mesas, Rosemary sambava e encantava os clientes. O patrão não reclamava, o negócio prosperava...
Quando terminava a temporada a cidade se esvaziava. Aquele marasmo não combinava com o seu perfil. Ela queria “samba, suor e cerveja”. Queria o agito de um dia de sol.
Foi em um dia de verão que ela conheceu Jorge. Jorge, um aposentado com mais de setenta anos, trinta anos mais velho que ela e que se encantara com sua beleza, seu riso farto e suas curvas... Que curvas! Para Rosemary era a possibilidade de uma boa gorjeta, para Jorge a possibilidade de um encontro.
No final do expediente, Jorge lhe ofereceu uma carona. Rosemary pensou em recusar, afinal tinha sua dignidade e não ia sair com estranhos, mas Jorge insistiu e ela aceitou. Era a economia de uma passagem de ônibus e de tempo.
Enquanto se dirigiam para a favela onde ela morava, Jorge contou a sua vida. Tinha-se divorciado da primeira esposa e deixara para os filhos toda sua herança, inclusive a empresa que conquistou a custa de muito trabalho. Resolvera morar em uma cidade a beira-mar. Comprou, com as economias que guardou para a velhice, um apartamento.  Mas, sentia-se só. Precisava de alguém ao seu lado:
“Mais um velhote querendo ganhar uma mulher mais jovem”. - pensou Rosemary. E, instintivamente, ficou na defensiva.
O carro chegou ao destino e Jorge, gentilmente, lhe abriu a porta dizendo:
- Preciso encontrar você novamente. Gostei de você.
- Você sabe onde me encontrar. Estou a sua disposição no quiosque. Nada mais que isso. – respondeu a moça sem se comprometer.
Veio o verão e a temporada prometia muito. Servia as mesas, dançava, cantava e encantava os fregueses. Jorge em um canto, só olhava embasbacado. Na saída, lá estava ele a sua espera.
Foram meses de muitos encontros. Rosemary se sentia feliz. Gostava de Jorge, de seu jeito calmo e respeitador, ele a tratava como uma “lady”.  O namoro foi ficando sério.
Em um domingo de sol, no final do expediente, Jorge a esperou para a carona rotineira.
- Rose, preciso lhe falar. Faz tempo que somos amigos, mas meus sentimentos não são mais de um amigo. Eu lhe amo. Quero me casar com você. Não tenho mais idade para esperar...
A moça foi pega de surpresa. Tivera muitos namorados, inclusive em Maceió, mas nenhum a levou a sério. Esse era o primeiro convite de casamento:
- Você está maluco. Tenho trinta anos a menos que você... O que irão falar?
Jorge insistiu. Ela cedeu:
- Vou pensar com calma. Me dá um tempo.
- Vou até São Paulo, resolver uns negócios. Falar com minha família. Na volta, quero uma resposta sua.
Rosemary ficou apavorada. Casar com Jorge?  Por outro lado, seria uma dama. Jorge, com certeza, a levaria ao Rio de Janeiro para sambar na “Beija-Flor” com a fantasia que quisesse. Finalmente, realizaria seu sonho.
Ainda pensava no assunto quando Jorge apareceu dias depois. Estava calado, preocupado. Contou a ela que os filhos foram contra o casamento. Acharam precipitado o pedido e que, com certeza, Rosemary estava dando o golpe do baú, achando que ele tinha herança. A diferença de idade entre os dois tinha “pesado” bastante. Mas, como a vida era dele e a herança já estava dividida, o problema era dele.
Rosemary resolveu terminar tudo. Não quis carona, não quis conversa. Estava indignada com o ocorrido. Ela era uma mulher de personalidade e nunca pensara em se casar por dinheiro, ainda mais com um homem mais velho. Foi passear na praia.
Era um dia todo especial: Dia da Consciência Negra. Feriado. O samba corria solto num barzinho na esquina. Quando ela entrou no barzinho, o samba parou. O silêncio foi geral. Só se ouvia o som da cuíca chorando ao fundo. As mulheres a olharam com desdém, os homens com interesse. Rosemary entrou no ritmo do samba. Seus cabelos compridos enrolados em madeixas que lhe cobriam os ombros lhe ficavam muito bem. Boca carnuda e um lindo par de pernas apareciam na minissaia descolada. Ela queria sambar e esquecer Jorge e toda sua família.
Jorge demorou a lhe procurar. Rosemary sentiu sua falta. Um dia, na saida do quiosque, ele estava lá:
-Tudo resolvido com minha família. Só tenho o apartamento e ele será seu presente de casamento. Case comigo.    
Rosemary se rendeu. Sentia por ele uma ternura especial. Era dele que ela gostava. Aceitou se casar.
Os pais de Rosemary vieram de Maceió para o casamento. Estavam felizes. Jorge não era casado no religioso e, portanto, os sonhos dos pais em vê-la casar na Igreja foram realizados. Rosemary subiu o altar como uma princesa. Jorge, elegantemente trajado, era mais velho que o pai da noiva. Ao sair da Igreja, já como Sra. Nacif, Rosemary tinha certeza que fizera uma boa escolha. Jorge era um “gentleman”.
A lua de mel foi maravilhosa. Foram ao Rio de Janeiro e ela conheceu os pontos turísticos mais famosos e as praias mais lindas do mundo. Rio de Janeiro, berço dos poetas e dos sambistas famosos ou anônimos! Mas, faltava a Beija-Flor: sua escola do coração.
Jorge não a decepcionou, levou-a para conhecer a Escola. Enquanto ele a admirava, sentado próximo à quadra da escola, Rosemary se acabava no samba. Dançou a noite toda.
Já na manhã seguinte, quando os primeiros raios de sol embelezavam ainda mais a “Cidade Maravilhosa”, Rosemary deixou o samba e agradeceu a Deus e ao marido. Sentia-se a mulher mais feliz do mundo. Estava no Rio de Janeiro, lugar do carnaval, da sua Escola de Samba e o futuro, com certeza, seria maravilhoso!
Resolveram morar lá. Foram muito felizes no Rio onde a cidade os recebeu de braços abertos. Rosemary tinha só motivos para sorrir: muita praia, muito samba e cerveja.
Anos depois, em decorrência da idade avançada, Jorge veio a falecer. Rosemary se fechou em uma tristeza que, até então, nunca conhecera. Prometeu a si mesma que nunca mais queria saber de samba e carnaval. Sem Jorge, nada valia à pena.
O carnaval chegou e tudo era cinza em seu coração. Havia um ano do trágico acontecimento. Rosemary saiu para passear na orla da praia, quando ouviu o som da cuíca, em lamentos tristes, chamando-a para dançar. Ela seguiu o ritmo de seu coração. Entrou na quadra da escola e foi contagiada pela euforia dos sambistas.
Com certeza, Jorge entenderia. Era o samba que a chamava para a vida. Um festival de alegria tomou conta de todo o seu coração. Rosemary sambou... Sambou... Sambou até o sol raiar.
Ela estava de volta e o samba novamente “pedia passagem”.  
                                                

Tecendo a felicidade


Tecendo a felicidade

Na minha vida de grilo pensante, confesso que sou feliz. Feliz por morar nessa biblioteca onde posso aumentar minha cultura e escrever minhas histórias. Apesar de todas as catástrofes que existem no mundo, acredito que a felicidade existe de formas diferentes para cada pessoa. Cada ser humano vive de maneira diferente este sentimento maravilhoso que Deus colocou na terra. Uns são felizes com pouco, outros precisam de um pouco mais para viver bem com sua vida. Mas, cada pessoa é responsável por ser ou não feliz, depende das opções que ela fizer em sua vida.
De tanto observar a humanidade, cheguei à seguinte conclusão: o paraíso aqui na terra existe e é povoado por pessoas idosas que apesar da idade conservam o brilho no olhar e a vontade de ainda sonhar. Essa é a eterna juventude: viver sem perder a ternura.  Praticar esse exercício é uma arte, mas quem consegue este feito encontra a felicidade no tempo presente.
 Conheci Gregoriana quando em um sarau organizado aqui na biblioteca. Observava os poetas e escritores chegando e me deparei com ela e uma amiga que já conhecia de outros saraus, Alana. Ambas são artistas plásticas: Alana é a artista das aquarelas e Gregory, como quer ser chamada, prefere pinturas a óleo. Chamo-as de amigas porque aprendi a gostar de ambas assim que as vi. Encantei-me por Gregory pela sua amabilidade para com outros artistas que ali se encontravam. Ela dizia sempre uma palavra de otimismo e força para com os demais.
 O sarau havia transcorrido como de costume: poesias primorosas ditas por poetas anônimos, mas que são verdadeiras obras primas. Terminado o evento, ouvi quando Gregory viveram batante  convidou Alana para ir ao seu apartamento. Assim que saíram, peguei carona e me infiltrei em seu carro; não perderia aquele passeio por nada deste mundo. A curiosidade em participar do mundo de pessoas tão maravilhosas sempre me fascinou.
Pelo caminho, fiquei sabendo mais de minha nova amiga, pela conversa das duas. Concluí que Gregory é viúva de um radialista e com ele viajou por quase todos os países. Após sua morte, comprou seu apartamento e, aqui, em Guarujá, fixou residência. Ela está com oitenta e oito anos, há pouco tempo sofrera um acidente onde quebrara o fêmur e por isso anda com o auxílio de um andador. Está sempre com o motorista e uma enfermeira.
O carro parou e elas desceram. Fui junto, antes que o motorista me prendesse no carro e terminasse com minha aventura.
O lugar onde Gregory mora é fascinante! De um lado altos apartamentos e hotéis enfeitam a subida de um morro. De outro lado, o muro de contenção onde os turistas observam as águas que se quebram nas pedras e contemplem esse maravilhoso espetáculo da natureza!  O seu apartamento fica em um prédio de frente para o mar, no quarto andar.
 Minha primeira expectativa em relação a Gregory, era que aquela amabilidade e alegria do sarau se restringissem a eventos sociais e que, no aconchego de seu lar, encontrasse uma idosa senhora, sofrida e imensamente infeliz. Altamente compreensivo em uma senhora que se locomovia com andador e que precisava do auxilio de outras pessoas em suas tarefas rotineiras.
Quando a enfermeira abriu a porta, minha surpresa foi imensa.  Naquele lugar morava uma jovem senhora que levava a vida com todo o otimismo e alegria de seus oitenta e oito anos. A minha impressão ao entrar na sala era que entrara no paraíso. Na sala, quadros de todos os tamanhos e cores cobriam todas as paredes e até as portas dos quartos. Até mulheres nuas pintadas por ela emolduravam suas portas.
-Como é? Gostou do meu apartamento, Alana?- perguntou já sabendo da resposta.
-Você mora no paraíso! -disse Alana, boquiaberta. Ela ainda não havia visitado o apartamento que Gregory morava.
-Não filha, mas é quase isso. É o meu paraíso. Aqui pinto meus quadros e os distribuo por todos os espaços da casa. Os nus, normalmente não ficam muito tempo, meu filho leva de presente. – completou.
Ela riu e o seu sorriso era tão doce que me senti embevecido por ela. Olhei pela janela onde as ondas do mar pareciam bater nas janelas da sala e nas do quarto. Estonteante!
-Venha conhecer meu atelier e os demais cômodos da casa.-disse Gregory á Alana.
Acompanhei-a pelas paredes da casa, rezando para não ser notado. Em cada canto Gregory contava uma história seguida de uma contagiante risada. Para ela, tudo na vida tinha um aprendizado. Sentaram no sofá da sala em frente a uma mesa de tampo de vidro onde vários objetos pequenos, cuidadosamente organizados em divisões, me chamaram a atenção. Percebi que Alana também se impressionou. Ela percebeu o interesse da amiga:
- Esta mesa representa minha história de vida. Cada lugar por onde andei está aqui representado por um objeto. Trago na memória lembranças destes lugares e o que esqueço, essa mesa me faz recordar. É como se viajasse no tempo. Quando quero viajar em minhas lembranças é só olhar para esta mesa. Por isso sou tão feliz, tenho sempre o que recordar, mas não deixo de viver o presente. Ele é o que realmente importa. Meu passado conta a minha história, mas o meu presente retrata a minha vida agora. É hoje que quero ser feliz e ajudar quem precisa de um pouco de felicidade.
Gregory surpreendente! Admirando seus quadros, algo me chamou a atenção: alguns foram assinados por Ana e outros por Gregory.  Alana perguntou o motivo e ela respondeu: .
-Ana também sou eu. É o final de meu nome e assinava meus quadros assim, mas, um dia, resolvi mudar meu nome. Ana é um nome muito comum! Informei a todos, amigos e familiares que a partir daquela data, meu nome seria Gregory. Aos setenta anos, podia decidir como queria ser chamada. No início, meus filhos foram contra, depois concordaram. Agora, no presente, sou Gregory e assino meus quadros assim.
- Seus filhos são lindos!  Disse Alana, admirando os porta-retratos sobre os móveis.
- Já estão casados e felizes. Também tenho seis netos lindos. - completou rindo. Eu aguardo as férias para vê-los aqui. É maravilhoso!
- Você conhece o mundo todo?
-Quase. Conheço a Europa. Quando meu marido morreu, meus filhos não queriam que eu viajasse sozinha. Um dia, arrumei meu passaporte e fui a Paris. Eles só souberam quando mandei minhas fotos em frente à Torre Eiffel. ...No “Musée d’Orsay”, escorreguei e caí.
-Nossa, que transtorno! – falou Alana.
-Nem fiquei triste. Eu adorei! Fui carregada até o hospital por policiais fardados, lindos, com as despesas todas do hospital pagas pelo governo porque eu havia caído em um lugar público. Primeiro mundo! Sinto pena das pessoas daqui e do desrespeito que sofrem quando precisam de socorro médico. Sei que não posso reclamar da vida, mas sou uma exceção! A maioria não tem a quem recorrer... - uma breve tristeza apareceu em seu rosto.
-O mundo nem sempre é justo! – Alana interveio.
Gregory balançou a cabeça, afastando os maus pensamentos e falou sobre seus planos de continuar pintando. Com mais de oitenta anos, ela ainda tinha sonhos e projetos futuros.
- Na vida temos que guardar apenas os momentos felizes e ajudar os que precisam; ajudar sempre. É isso que me mantém viva. Sigo o que diz aquela música: “Ando devagar porque já tive pressa. Levo o meu sorriso porque já chorei demais...” – cantarolou baixinho, dando a sua versão aos versos da canção.
Às horas passaram voando. Era preciso sair do paraíso e retornar a minha rotina “sem graça”, mas que adquirira um novo brilho após aquela visita. Alana se despediu da amiga; o motorista a levaria para a casa. E eu, peguei carona até a biblioteca que ficava na mesma rua. Eles nem notaram minha presença.  
Fiquei pensando a semana inteira em minha nova amiga. Vocês poderão dizer que com dinheiro é fácil ser feliz. Será? Só pobre que é triste? Dinheiro nada tem haver com felicidade. É claro que facilita e possibilita ter uma vida melhor.
 Naquele dia, com Gregory, aprendi lições de vida que jamais esquecerei. A melhor idade muito tem a nos oferecer. É uma pena que quando jovem as pessoas não estejam preparadas para ouvir. Esse exemplo eu levarei em meu coração para sempre.
O meu objetivo agora é tornar a minha vida especial. Por isso, já tenho tomado algumas providências. Uma delas é escrever minhas histórias e quem sabe ajudar alguém a pensar no assunto. Fui!

Madalena


MADALENA

Nua, desnuda diante da vida,
Sem valores, preconceitos ou laços fraternos,
É a imagem de um passado que a condena.
Madalena arrependida!
Madalena que chora,
Sem forças, sem crença no amanhã,
A mão estendida é a última chance de retornar
E, qual Fênix, renascer das cinzas
Reconstruindo a vida
Atendendo ao chamado do coração!


Utopia?


UTOPIA?

Num mundo conturbado, num mundo de agressão,
Surgiu uma cantiga amiga que falava em doação,
De amor, de paz, de alegria e quem sabe um novo dia,
Pudesse então renascer.

E quando alguém escutou... O mundo se transformou:
O ódio pediu a paz! A violência, o amor!
E a Canção da Felicidade,
Retirou do mundo a maldade,
A desigualdade, a dor.

E uma a uma as mãos se entrelaçaram.
E neste laço de amor e união,
Sentiram a força de estar juntas
De conviver, de vencer.

Uma a uma, bandeiras brancas foram hasteadas
E todos correram para ouvir e cantar
A canção que falava em perdoar.

E cada rosto se irradiou de alegria
Numa corrente de otimismo e magia
Sentindo a esperança contagiante...
Vibrante... Crescer.

Era a aurora de um novo dia!
Utopia?

Isto não será só um sonho... Irá acontecer
Se um ao outro tentar entender.
Compreender que há um coração que sofre
Por todo aquele que morre
E que também é nosso irmão.

E se as mãos se entrelaçarem,
Conseguiremos abraçar o mundo,
E o amor de cada um,
Tornar-se-á maior e profundo.

E a pomba da paz voará afinal!





domingo, 4 de novembro de 2012

Nas garras da lei


NAS GARRAS DA LEI

                O lugar é paradisíaco. Do alto do morro, as ondas batem nas pedras e voltam para o mar dando a sensação que o paraíso começa ali. Condomínio fechado, prédios arquitetonicamente desenhados para que a vista do mar seja a mais privilegiada possível. Morar ali é para poucos; para os afortunados. Mas, embora o condomínio se gabe da vigilância perfeita, sofrera alguns assaltos nos últimos anos, o que pôs os moradores em alerta.
               Marina era uma destas moradoras. Ela e o marido Oscar eram uns dos mais antigos condôminos do “Paradise Center”. O fato de morar em uma cidade como São Paulo fez com que o casal procurasse o sossego da praia, o que até então tinham conseguido.      
             Mas, a paz tão procurada estava ameaçada.  Marina andava apavorada e junto com o marido tomaram as providências necessárias para, aparentemente, viver em paz. Equiparam a casa com alarmes com sensores ultramodernos, cercas elétricas nos muros, sem se esquecer de brindar a BMW usada por Marina. Mesmo assim o estresse era visível.
             A nossa história começa quando todos se preparavam para um casamento num sábado a noite.  Marina chamou sua manicure para prepará-la para o evento. Após fazer as unhas, devido ao adiantado da hora, Marina resolvera acompanhar Flora até sua casa. O casamento era às oito horas e, portanto, ainda tinha algum tempo.
               Tranquilamente, Marina dirigindo sua BMW blindada e tendo ao lado Flora, desce o morro que a levará a estrada. No caminho, algo lhe chama a atenção:
                -Flora, quem são aqueles homens na estrada?
                -Dona Marina, eles estão lhe pedindo pra parar.
                -Nem morta. Podem ser bandidos.
               Ela tentou aumentar a velocidade do carro, mas os homens, audaciosamente, pularam na frente do veículo. Marina mal conseguia segurar o carro.
                  -Está louca- brada um dos homens, mostrando um distintivo - Polícia! Abra os vidros!
                 Já recomposta, mas suando frio, ela aciona o microfone do carro e grita para eles:
                 -Estou escutando tudo, não preciso abrir o vidro. Podem falar.
                 -Somos da Policia Civil e queremos revistar o carro.
                 -Revistar o carro? De jeito nenhum. Só com um mandado judicial.
                 Ela conhecia as leis. Não ia cair nessa conversa.
                 -Moça. Somos da polícia. Olha nosso distintivo. – diz um dos policiais.
                 -Qualquer um pode comprar um “distintivo fajuto”. – ela não ia acreditar nessa piada.
             -Senhora, isso é desacato à autoridade! Abra a janela para conversarmos. Preciso ver a sua carta!– bradou o policial que iniciou o diálogo.
                  -Quem me garante que vocês são mesmo policiais?
                  -Está vendo aquela viatura lá em baixo da ladeira? É nossa. Estamos trabalhando.
                  De fato uma viatura estava no início do morro...
              -Qualquer um rouba carro de polícia hoje em dia. Até o Abílio Diniz já caiu nessa e acabou sequestrado. Quem garante que vocês não são bandidos? – ainda estava desconfiada.
                 - Se a senhora abrir um pouquinho o vidro, vai ver melhor nossos distintivos.
                  O policial com quem conversava estava ficando nervoso. Marina resolveu obedecer.
                 -Eu vou abrir um pouquinho o vidro. Você passe o distintivo pra eu examinar. Eu passo a minha carta.
                 - O distintivo não sai da minha mão! Me dá logo a carta!
                Agora sim, eles estavam nervosos. Marina obedeceu. Queria terminar logo com aquilo. Já estava atrasada para o casamento. O policial revistou o carro atentamente.
                 - Isso não vai acabar nunca? Tenho um casamento. – ela não obteve resposta.
                  Ela estava ficando apavorada. O policial demorou a lhe devolver a carta.  
              -Me acompanhe até a delegacia. O que a senhora nos desacatou. Isso é crime. - disse novamente, o policial.
                 -Não tive intenção nenhuma. Vou acompanhá-los, mas no meu carro. Não fiz nada errado. – falou Marina querendo aparentar tranqüilidade.
                 Os policiais concordaram. Não adiantava conversar com ela.

                 Os carros chegaram ao destino. O delegado os aguardava.
                 - Que aconteceu? Qual foi desta vez? – falou o delegado se dirigindo aos policiais.
                - Desacato à autoridade. Estávamos trabalhando e essa senhora se recusou a cooperar. Pedi pra ela deixar revistar o carro e ela me falou barbaridades.
                 Mesmo com medo, Marina constatou que o delegado parecia “boa praça”. Isso lhe tranqüilizou:
                -Eu fiquei com medo. Até o Abílio Diniz já foi seqüestrado. Por isso tenho carro blindado, pra não correr perigo.
                 -Calma... Calma! Vamos conversar um de cada vez. - disse o delegado- Tome o depoimento de todos. - disse dirigindo-se ao funcionário que tomava os depoimentos.
                 Depois, pediu para Marina se explicar.
              - Doutor, esses policiais pegam uma pobre moça indefesa como eu, e querem que eu pare o carro. Eles não estavam fardados e eu nem vi a viatura. Como é que eu ia adivinhar?
                -Eles estavam atendendo denúncias do próprio condomínio. Houve assaltos por lá.
               - O senhor é um homem esclarecido, com certeza, não vai dar ouvido a eles. Sou uma pessoa do bem, o senhor não pode me processar...
                 -Nem o senhor ela respeita! - brada o policial - Viu delegado, como ela fala? 
             -Estou falando direitinho. Não estou ofendendo ninguém. Vocês é que me trataram como bandida. - retorna Marina.
                 O policial cego de raiva vai à direção à Marina, mas o delegado ordena que saiam:
                 -Depois, eu converso com vocês. Esperem lá fora.
              -Seu delegado. Eu sei que o senhor é homem de bem. O senhor não vai me prender, vai?- diz Marina, assim que ficam a sós.
                 - Por enquanto não, mas pode assinar esses papéis.
                 -Agora posso ir? – pergunta ao delegado que faz um sinal afirmativo com a cabeça.
                 Marina sai rapidamente.
               
                 A semana não foi das melhores. O marido, o filho, todos estavam contra ela.  Pensou em voltar no distrito, pedir desculpas, mas desistiu. Podia piorar o caso.
               Uma semana depois foi chamada a depor. O juiz não lhe deu nenhuma chance de se explicar.  Foi logo lhe aplicando “uma pena” de algumas cestas básicas.
              No início, Marina ficou revoltada. Aceitar isso era uma confissão de culpa. Mas, pensando melhor, ela gostava de ajudar o próximo e cumpriria com o maior prazer. Era feliz, tinha uma família maravilhosa e poder ajudar era muito gratificante. Enquanto dava as ordens em casa, pensava “com seus botões”:
                 “Tudo voltou ao normal! Mas, no futuro, se algum policial “metido a besta” quiser revistar meu carro, eu não paro de jeito nenhum. Só paro presa!”.